terça-feira, 30 de junho de 2009

Ontem eu quase morri [verídico]


Para quem ainda não sabe, entra no link ai ó...

http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1§ion=Geral&newsID=a2562051.xml

São 6h45min quando me levanto. Acordar cedo é foda, ainda mais numa segunda-feira. Coloco a primeira roupa que vejo na frente, e saio correndo para levar minha mãe na rodoviária. O ônibus parte as sete e meia, e como todo brasileiro, sair esgoelado no horário é natural. Não tomo café, não tiro as remelas do olho e sequer dou aquela sagrada mijada matinal. Simplesmente ligo no automático, entro no carro e vou.

No caminho até a rodoviária, minha mãe abre a matraca e não para mais. Acho que nem percebe meu interesse nulo na conversa matinal, já que minha mente prefere ouvir a música que toca no rádio. Só presto atenção aos tópicos principais. “Blábláblá blábláblá te cuida com essa gripe suína, meu filho, porque blábláblá bláblá...” , ou, “blábláblá bláblá tá na hora de fazer um plano de saúde pra ti, porque blábláblá blábláblá...”. Eu vou respondendo com, “pois é”, “aham”, “vamos ver”, e isto parece satisfazer a necessidade de manter o seu monólogo quase ininterruptamente.

Me despeço dela na rodoviária, e sigo em paz com a música em direção a faculdade. Vou chegar bem cedo, espero que tenha alguém para jogar uma sinuca na Fabico. Penso como é tranqüilo dirigir nesta hora da manhã, pouco antes da babilônia sonora e material que certamente virá na hora rush. Entro na rua Garibaldi e passo pela Independência. Um velho caminhão não deixa espaços para que eu siga, e vai despejando exatamente sobre mim uma quantidade criminosa de gás carbônico. Na primeira brecha faço a ultrapassagem, e ao longe vejo o sinal ainda verde no cruzamento com a Oswaldo Aranha. Aumento o ritmo. Vou ter um bom tempo para cruzar. O sinal fica amarelo, e eu passo. Com minha visão periférica percebo o outro carro ultrapassando o sinal vermelho e vindo sobre mim. Mas não há tempo para mais nada. Que girem a roleta!

Não, flashes da minha vida não se passaram pela minha mente, nem visualizei as portas do Inferno com o Belzebu torturando criancinhas. Mas, no impacto do choque, remeti claramente a um momento feliz de um passado próximo, simultaneamente tão remoto. De repente tudo some, e neste momento pensei estar morto. Porém aparentemente me equivoquei, afinal ainda estou aqui para contar a história. Isto, é claro, excluindo-se a probabilidade cartesiana de eu ter morrido apenas parcialmente, enquanto meu cérebro continuar intacto e controlado por uma entidade superior de caráter discutível. Mas, se aceitarmos tal possibilidade, entraríamos em um campo de metafísica e religiosidade muito avançada, o que tornaria este texto exageradamente tedioso.

Retomando o eixo, se o momento da colisão fosse gravado, certamente colocaria na lama os milionários efeitos sonoros e visuais holliwoodianos, pelo menos em termo de realismo. Haviam todos os elementos necessários para dar cena o impacto de ação e destruição, além de um toque bacana de violência. Um carro com a frente afundada rodando violentamente sobre si próprio. O outro utiliza o bico do primeiro para executar um magistral giro no ar, enquanto uma das ocupantes do banco traseiro, que por sinal não utilizava cinto de segurança, voa através do vidro lateral para um pouso um tanto forçado no corredor de ônibus. O giro do carro, infelizmente, não é concluído, e este aterriza, capotado, coincidentemente sobre a garota voadora anteriormente citada.

Apesar do cenário apocalíptico, e da ameaça de plágio ao jargão de Vídeos Incríveis, ninguém morreu ou ficou ferido no acidente. A descrição da Zero Hora é baseada em rumores e mentiras. Apenas temos, de um lado, um jovem protegido pela razão (e pelo seguro total de seu veículo). De outro, uma garota babaca e retardada que ultrapassou o sinal vermelho, destruindo o carro sem seguro do sogro. E, finalmente, no meio de campo, o depoimento do pseudo-fotógrafo charlatão Fotonaldo, funcionário de uma empresa de comunicação sabidamente tendenciosa e pouco preocupada com o compromisso da verdade, que deveria ser sua premissa básica.

Meu trauma certamente fará com que eu não mais cruze o sinal amarelo ou esqueça o cinto de segurança. E, pasmem-se, mas minha mãe estava certa desta vez. Preciso de um plano de saúde.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Espinhas


Concluí o trimestre, mas minhas espinhas tinham piorado ainda mais. Elas eram do tamanho de nozes e cobriam minha face.
Eu sentia muita vergonha. Algumas vezes, em casa, eu parava em frente ao espelho do banheiro e estourava uma das espinhas. Pus amarelo espirrava no espelho. E então saía um pequeno caroço branco. De um ponto de vista escatológico, era fascinante que toda aquela porcaria pudesse caber ali dentro. Mas eu sabia como era difícil para as pessoas terem que me olhar. (...)

(...) - Acne vulgaris. O pior caso que já vi em todos os meus anos de prática! - indicou um dos médicos.
- Fantástico!
- Incrível! -Olhem só o rosto!
- O pescoço!
- Acabei de examinar uma jovem com acne vulgaris. Suas costas estavam cobertas. Ela chorava. Sabem o que me disse: "Como vou conseguir arranjar um homem? Minhas costas ficarão marcadas para sempre. Quero me matar!". E agora veja só esse camarada! Se ela pudesse vê-lo, saberia que realmente não tem nada do que reclamar!
Seu puto imbecil, pensei, não percebe que posso ouvir o que você está dizendo? Como será que um homem chega a médico? Será que eles aceitam qualquer um?
- Ele está dormindo?
- Por quê?
- Parece bastante tranqüilo.
- Não, não acho que ele esteja dormindo. Você está dormindo, meu garoto?
- Sim. Estou dormindo seu babaca.

*extraido do livro Misto Quente, de Charles Bukowski

Uma breve reflexão acerca do mito dos Cavaleiros Alados da Armênia



A pedidos, algo mais antigo que, com algum redundante exagero exacerbado, pode ser chamado de "clássico".

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Era uma bela manhã de sexta feira. Juca e Joca conversavam sobre flores. Repentinamente, um fato fez os dois pararem a conversa: uma carrocinha de picolés da marca Kibon
Juca e Joca saíram correndo e pediram os dois um Chicabon. O vendedor disse que, infelizmente, só havia um Chicabon disponível. Então, em uma súplica desesperada, Juca disse:
-Oh Deus! Por favor, materialize um Fuzil AR-15 em minha mão!
Como por milagre, o fuzil AR-15 se materializou nas mãos de Juca que começou a disparar freneticamente contra Joca. Depois de ser atingido por quase uma centena de tiros, por uma arma que tem poder suficiente para atravessar paredes, Joca inexplicavelmente faleceu. Para não deixar evidências de seu crime, Juca matou também o vendedor de sorvete, e comeu seu Chicabon sem precisar pagar.
Por mais dois dias, Juca aproveitou o fato de ter dezenas de picolés de graça a sua disposição, e comeu diversos picolés dos mais variados e saborosos sabores. Quando se cansou dos sorvetes, percebeu que os corpos ainda estavam ali, começavam a feder muito e atraiam algumas vacas carnívoras, que se deliciavam devorando a carne em putrefação de Joca e do sorveteiro. Revoltado com a falta de pudor daqueles estúpidos animais, que comiam nus e andavam de quatro, Juca matou os singulares bichos, e excretou sobre cada um deles em forma de protesto. Reparando a bizarra situação que havia em sua volta, Juca teve uma brilhante idéia: construir um barco, e com ele realizar seu sonho de ir para a Terra Feliz, onde todos cantam e são felizes. Então, com o fuzil, o couro das vacas carnívoras, seu excremento, a carne podre dos homens mortos, algumas moedas e fita durex, o rapaz construiu um grandioso e sofisticado navio, capaz de comportar mais de 500 mil pessoas ou 170 monstros albinos sino-paraguaios médios.
Pessoas do mundo todo (e 5 monstros albinos sino-paraguaios médios) vieram participar o que seria a viagem única do "Joca", nome dado ao navio em homenagem ao falecido amigo, rumo a Terra Feliz. Entre as pessoas presentes, muitas celebridades, como o presidente Lula, Quentin Tarantino, Samuel L. Jackson, Paris Hilton e o Papa, acompanhado de Jesus Cristo. Exaltado com a possibilidade de ver seu sonho realizado, Juca inaugurou o barco que finalmente estava pronto para partir. Porém, quando o Joca foi ligado, ele percebeu uma grave falha nos seus planos: o barco havia sido construído sobre o monte Kilimanjaro na Tanzânia, muitos quilômetros distante do mar. Triste e desiludido pelo fracasso de seus planos, Juca começou a chorar, e, quando parecia que nada poderia piorar aquela situação , ele reparou que suas lágrimas eram de um magnífico ácido sulfúrico, que se alastrava incontrolavelmente e estava corroendo todo o navio. Desesperado, ele novamente apelou ao Ser Supremo
-Oh Deus! Eu lhe imploro! Em sua Infinita Bondade, me auxilie nessa difícil situação!
Ao que Deus respondeu:
-Desculpe garoto, estou dando uma cagada
Desiludido e tomado de ódio pelo fato de que Deus estava priorizando suas necessidades fisiológicas àquela situação de extrema tensão, Juca apelou para Chuck Norris que, prontamente, pulverizou Deus com a força de seu pensamento, consertou o navio e o arremessou ao mar.
Então, depois de 3 anos de viagem, o Joca aportou na Terra Feliz, onde todos os passageiros humanos foram devorados pelos 5 monstros albinos sino-paraguaios médios, que se tornaram os Reis do Mundo.

Fim

terça-feira, 23 de junho de 2009

Sonhos dantescos



De repente, a música de uma flauta doce me desperta, com sua melodia suave e reconfortante. Saio do meu quarto nauseante como se estivesse de ressaca, a música parece me chamar mas não sei qual o caminho a seguir, pois ela emana em todos os lados da casa. Começo lentamente a descer as escadas, e o ranger do assoalho é tão alto que quase ofusca o som da flauta, e aperta ainda mais os miolos da minha já enfraquecida cabeça. Observo o quadro localizado logo ao lado, na parede. A pintura do barquinho com um pescador solitário na pequena vila de água cristalina obviamente está se movendo. Eu não estou ficando louco! O vento quente, posso sentir a brisa, cria minúsculas ondas no mar tranqüilo e faz as árvores dos morros circundantes balançarem morosamente. Por um instante fico relaxado e feliz, mas no momento em que piso em mais um degrau da escadaria, um silvo agudo penetra em minha mente e causa uma dor dilacerante. Sinto que existem milhões de vermes arrancando pedaços do meu cérebro. Tento gritar, mas apesar de sentir que a musculatura da boca faz o seu trabalho, não há nenhum som. Perco a força nas pernas e desabo escada abaixo, batendo a cabeça no chão com força.

Quando acordo, o irritante silvo agudo foi embora, bem como minha ânsia de vômito. Já a melodia da flauta doce persiste, e continua me chamando. Ao que parece o som vem de fora da casa. Abro a porta de entrada e me deparo com a majestosa floresta, fazendo com que o som da flauta se misture com o canto de uma centena de pássaros e o barulho do mar, que não parece muito distante. Grandiosos jequetibás e figueiras se apresentam em sintonia com arvores esguias e retorcidas, cobertas por uma variedade de bromélias e orquídeas. A vegetação é tão densa que apenas é possível ver algumas nesgas do sol. Sigo ao norte e a música vai aumentando cada vez mais. Viro a direita numa enorme pedra coberta de limo onde um velho babuíno se encontra sentando. Ele parece estar me esperando e faz um sinal para que eu o siga. Faço o que o macaco manda, e durante a caminhada a vegetação vai se rareando, enquanto a melodia cresce. Quando me dou conta, a floresta já ficou para traz, e foi substituída pela areia fina de uma tranqüila praia, um pequeno balneário em meio a mata fechada, onde havia apenas um minúsculo casebre de madeira. O macaco indica que devo entrar no local. Obviamente a música vem lá de dentro.

Entro no casebre. A melodia está mais forte do que nunca, mas não há ninguém no local. Não há qualquer tipo de mobília, apenas uma berrante privada rosa pink encravada no chão, destoando completamente do ambiente. Mas é exatamente de lá que a música vem, então me aproximo. Uma placa pendurada na descarga indica: “Perigo! Não de a descarga”. Levanto a tampa, e o que havia dentro da privada obviamente não era uma flauta doce, e sim um enorme e podre cagalhão assobiando a melodia. O fedor que sai dele é tão intenso que sinto que toda a natureza em volta foi dizimada em detrimento de um enorme lixão. A ânsia de vômito e a sensação de ressaca voltam, o que faz com que eu ignore o aviso e dê a descarga. O cagalhão foi-se embora, levando consigo toda a música. Um silêncio profundo reinava agora.

A porta do casebre de repente se abre e um grande clarão branco surge, ofuscando minha vista. Sigo até a saída hipnotizado pela sua luz. A pequena casa de madeira se desfaz, assim como todo o cenário anterior. Agora estou em meio a uma selva de pedras, no centro movimentado de uma enorme metrópole onde não há mais o barulho de flauta doce ou pássaros cantando, mas sim o farfalhar desordenado de buzinas, gritos e máquinas trabalhando. Pelo jeito o cagalhão possuía alguma força sobrenatural que sustentava um equilíbrio entre a cidade e o ambiente paradisíaco anterior. Mas isso é passado. Um calor infernal se espalha pelo ar, me sinto sufocado com o ar tóxico. Quando procuro o céu, vejo apenas densas nuvens de fumaça lhe cobrindo, e uma chuva verde que cai corroendo carros, deformando as inúmeras construções e deixando as pessoas em alvoroço. Um gigantesco urubu aparece ameaça me engolir por inteiro. O silvo agudo retorna da boca do urubu, com maior intensidade em minha mente. Tento gritar mas novamente não sai som algum. Desespero.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O poético nascimento de Afrodite


Bom, tudo começou quando Caos, o vazio existencial, que estava com um puta resfriado, deu um espirro viril e criou as bases de tudo que existe. Meio que de gaiata na festa, vinda ninguém sabe de onde, apareceu Gaia, a Terra, uma putinha ninfomaníaca e parideira descontrolada. De um orgasmo brutal de Gaia, que batia uma louca siririca pensando em Caos peladão, surgiram Pontos, o Mar, e Urano, o Céu. Este último nasceu com uma baita pinta de galã de cinema, e Gaia, que não era boba nem nada, começou a molestar sexualmente do filhinho. Acontece que Urano, apesar de gostar muito das brincadeiras sexuais com Gaia, não estava, digamos, preparado para ser pai. Sabe como é, divindade jovem, rebelde, queria curtir a vida antes de se prender a uma família. Então ele trancafiou os seus filhos (e irmãos) dentro do ventre de Gaia, que ficou com um barrigão incomensurável. E mulher grávida vira uma vaca, toda estriada, cheia de pelanca, com os peitos e a bunda caida, daí era natural que Urano não tivesse mais vontade de transar com sua querida mãe. Só que Gaia já estava de saco cheio da prepotência e falta de virilidade do marido, então instigou seus filhos trancafiados no bucho a se rebelarem contra Urano. Nisto, Cronos, o caçulinha, sorrateiramente saiu da perereca de Gaia e, com uma foice mágica, cortou os bagos de Urano. As bolas ensangüentadas caíram em Pontos, o mar, que ficou puto da cara com a sujeira e derreteu os testículos. Surgiu então uma espuma de esperma poderosa, e desta espuma nasceu Afrodite, toda melecada em porra, bem como ela gosta.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A mente criativa

"A mente verdadeiramente criativa em qualquer campo não é mais que isto: uma criatura humana nascida anormalmente, inumadamente sensível. Para ele... um toque é uma pancada, um som é um ruído, um infortúnio é uma tragédia, uma alegria é um êxtase, um amigo é um amante, um amante é um deus e o fracasso é a morte. Adicione-se a este organismo cruelmente delicado a subjugante necessidade de criar, criar, criar - de tal forma que sem a criação de música ou poesia ou literatura ou edifícios ou algo com significado, a sua respiração é-lhe cortada. Ele tem que criar, deve derramar criação. Por qualquer estranha e desconhecida urgência interior, não está realmente vivo a menos que esteja criando." (Pearl Buck)

Um conto em 5 minutos


Marquei o cronômetro para cinco minutos, era o tempo que eu tinha para escrever um conto. Acabei me passando uns 30 segundos, mas ai está.

Aladin estava voando em seu tapete mágico quando se chocou violentamente numa batata voadora mutante, que misteriosamente se materializou no céu de Bagdá. Com o forte impacto, Aladin foi arremessado para longe, ao que o tapete mágico, ainda atordoado pelo surpreendente encontro com a batata, desceu em um rasante para salvar seu amado amo. Numa superação total dos seus próprios princípios mágicos, o tapete ultrapassou a barreira do som e alcançou Aladin antes deste se espatifar no chão. Porém, como as capacidades de mutação das tapeçarias em niveis supersônicos geralmente são muito elevadas, no momento que Aladin pousou em sua superfície o tapete adquiriu um forte potencial nuclear, e explodiu dizimando Aladin e praticamente toda Bagdá. Já a batata voadora mutante, por ser uma figura até então inexistente no imaginário de qualquer ser-humano, não só resistiu a explosão nuclear como se tornou imortal, e hoje em dia é vista vagando pelos locais mais inóspitos do planeta, espalhando a sabedoria dos tubérculos.

dialogo existencialista


Auã esmurruga a erva e fecha o baseado com habilidade. Em poucos minutos estamos fumando e divagando sobre a vida, entorpecidos pelo selvagem odor da cannabis em nossas mentes. Um programa sobre adestramento de cachorros passa na televisão.
- Que porra meu. Como a vida seria muito mais fácil se nós fossemos simples cachorros, irracionais e abobados, não é?- sugeri
- Pois é... Seria mais fácil mesmo, mas é exatamente esta simplicidade que separa o restante dos animais do homem.
- Ok, mas e o que ganhamos com essa separação?
- Se não tivéssemos, por ocasião do destino, descido das árvores e começado a comer carne, nosso cérebro não evoluiria e seriamos macacos vivendo apenas dos instintos. Daí não teríamos capacidade de raciocínio para estar tendo esta conversa subjetivamente articulada agora.
- Tudo bem, mas qual a grande vantagem desta fudida capacidade de raciocínio? O que de tão bom ganhamos com uma comunicação sofisticada e tecnologia de ponta, celulares, hambúrguer, filosofia ou kama-sutra?
- Muita coisa. O raciocínio possibilitou nosso crescimento intelectual e nossa prosperidade no mundo diante dos outros animais.
- Só que se ainda fossemos macacos não iríamos pensar para querer essa superioridade, teríamos a ignorância para nos proteger. Passaríamos a vida inteira rindo, fudendo e pulando de galho em galho.
- Se fossemos macacos, ainda estaríamos lutando por nossa sobrevivência contra leões e onças, as doenças encurtariam muito nossas vidas sem a medicina. Hoje temos a segurança e a liberdade para decidir um rumo para nossas vidas e estabelecer nosso lazer como bem entendermos, com sexo, futebol, sinuca e drogas para sanar nossas necessidades. Nossos meios de diversão tornaram-se mais sofisticados também.
- Mas toda essa evolução e arrojo intelectual só fez surgirem angústias e dilemas cada vez mais profundos! A medida que nossas cabeças evoluem, questionamos nossa própria existência, e chegamos a um enorme labirinto sem respostas. Um cachorro não tem estas preocupações, não fica se indagando sobre o que o futuro lhe reserva, para onde irá após a morte ou sobre como conseguir dinheiro para comprar uma caralhada de coisas. Estes questionamentos não ocorrem na cabeça de um cachorro, que simplesmente vive a porra do seu presente, plenamente satisfeito com o que tem. Ele não precisa de mansões luxuosas em Miami, viagens para as Ilhas Gregas ou até mesmo um baseado para ser feliz. Uma maldita bolinha de tênis quicando em sua direção já basta para isto.
- Vendo por este lado é verdade. A razão implica na consciência dos nossos atos, e isso nem sempre é bom. Mas nos não vivemos apenas do instinto, a evolução nos fez como somos e não há com quem reclamar se está certo ou errado. Se Deus fudeu tudo, é tarde para contestar. O que temos que fazer é tentar pensar menos e agir mais, ocupar a cabeça com o presente e deixar o futuro para os adivinhos – finalizou Auã, e já estou muito cansado para outra réplica.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Baba Yaga e a mitologia eslava


“Tenho certeza que a vi. Foi na Hungria, quando ainda era muito jovem, mas já tinha noção das coisas. Era inverno e eu cortava lenha para meu pai na floresta de Kadar, quando senti a presença de um vulto acima. A figura viajava aos rodopios pelo céu estrelado, montada em uma espécie de almofariz gigante. Com uma agilidade impressionante, deu um rasante e pousou. Ela parou muito próximo, não conseguiria me esconder a tempo. Baba Yaga me encarou. Era tão velha e sombria quanto a floresta, e tão alta e magra que podia ver-se a marcação de seus ossos na pele amarelada. O nariz tinha a forma de gancho e era ardente como o sangue, as narinas largas. Os olhos injetados feito carvão em brasa, e afiados espinhos saindo do crânio em vez de cabelos. Vestia um velho e longo vestido, e levava consigo ainda uma grande vassoura. Por alguns segundos ainda, ficamos os dois, criança e bruxa, a se observar. Então, com um único movimento da vassoura, criou uma densa nuvem de folhas secas e poeira, e desapareceu tão rápido quanto havia chegado”.

Baba Yaga é um ser mitológico do folclore do leste europeu. Vive numa casa móvel que tem como base enormes pés de galinha, cuja entrada é uma boca repleta de dentes afiados. Viaja pelos céus montada em um almofariz, e os rastros que deixa, apaga com uma vassoura. No panteão eslavo era tratada como Deusa da Morte, e tinha como lado masculino a criatura Koshchei, O Sem Morte. Ajuda os puros de coração e devora os impuros.

Guerra, dor e impotência


Tudo teve início com um ato impulsivo, um movimento provavelmente involuntário de um garoto assustado. Então um pesado estrondo reverba em meus ouvidos.
Absolutamente perplexo, observo àquele momento.
A expressão pálida, paralisada num breve instante de choque. Os olhos revirados e vidrados, a boca soltando uma última lufada de saliva, num último suspiro de vida. Na testa, um buraco, maior do que os que minha imaginação criava, porém também não tão enorme quanto meus pesadelos premeditavam. Um baque. Com um baque seco, o peso morto tomba. Me concentro, nos próximos segundos, em focalizar o contexto da cena: gritos na Igreja, uns de revolta, outros de pavor.
Pavor.
Um jovem soldado, com seus 20 anos no máximo, igualmente atordoado, sem entender o real peso de seu último movimento. Segue então, uma mãe desesperada, segurando a cabeça ensangüentada de seu filho morto. Ela, que havia perdido seu marido assassinado numa emboscada de soldados israelenses, que mantinha sua cria o mais longe possível da Jihad e de toda essa maldita guerra, que dedicava toda sua ternura e esperanças em um futuro melhor no seu filho único, viu, naquele quadro dantesco, seu mundo desabar. Não havia mais nenhum sentido em sua vida.
Acabado.
Tudo estava acabado para ela. Mas não. O jovem soldado não entendeu a imprudência do seu ato.
Não.
Sequer passa pela sua cabeça o sentimento daquela mãe, sentimento que resumia a triste sina de um povo, numa luta que já não tem mais nem a própria razão. Palestinos e Israelenses numa guerra que nenhum dos povos entende mais, uma mesma raça separada por crenças distintas.
Dor e Impotência.
O jovem soldado, pelo menos naquele instante, desconhece esses termos.
É pura adrenalina.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Cortes e pêlos


O barbeador elétrico, primeiramente, é elétrico. Diferentemente, o gilete não é elétrico. As duas formas necessitam do auxílio de mãos humanas para obterem resultados significativos, preferencialmente uma mão com polegar opositor. Ambos só existem porque o ser humano possui pêlos, muitos pêlos em muitas partes do corpo. Muitas mulheres raspam seus pelos, e costumam utilizar gilete, principalmente quando estão no banho, pois o barbeador elétrico, como é elétrico, não pode entrar em contato com a água, senão estraga. Quando os pelos são muito grossos e espessos, é preferível que se use o gilete também, pois, além de o gilete tornar o processo mais ágil, o barbeador elétrico possui lâminas muito sensíveis, e as vezes fica difícil cortar pelos longos e espessos, que acabam ficando presos ao barbeador elétrico ao invés de serem cortados, e junto com os pelos, a sua cara, perna, axila, bunda ou qualquer parte do seu corpo que possua pêlos sendo cortados pelo barbeador elétricos serão puxados pelo movimento do pêlo preso a lâmina girando do barbeador elétrico. Quando numa reação espontânea você afastar o barbeador da cara, perna, axila, bunda e etc, seu respectivo pêlo será cortado, mas isso vai doer bastante.

Diferentemente do gilete, o barbeador elétrico é um bem durável, que você poderá usar por um bom tempo diversas vezes. Você também pode ter um mesmo gilete por anos a fio se quiser, mas só por questões sentimentais mesmo, pois depois de um tempo suas lâminas irão desgastar-se, enferrujar, e então, se você usar tal gilete, provavelmente contrairá tétano. Logo, o barbeador elétrico é aconselhável para homens e mulheres que se barbeiam constantemente, e teriam que gastar muito tempo e dinheiro comprando gilete e loção de barbear. Outro ponto a favor do barbeador elétrico é a falta de dor no ato. O gilete, como o amor fulminante, nos deixa marcas, marcas de sangue. Também deixa as partes raspadas sensíveis demais, e torna-se muito doloroso, por exemplo, passar um perfume no pescoço barbeado. Excetuando-se o caso dos pelos longos, citado acima, a dor com o barbeador elétrico é quase nula. Fora que os riscos de suicídio através do barbeador elétrico são bem menores, e se você tentar cortar os pulsos com o barbeador elétrico no máximo vai sentir cócegas.

Concluído, tanto o gilete como o barbeador elétrico cortam pêlos.

terça-feira, 16 de junho de 2009

O Álcool e seus pontos de vista


1. SÓBRIO: O lugar era velho e mal cheiroso, parecia possível sentir o fedor de uns 50 anos acumulado lá. Por causa do forte calor, haviam moscas e baratas circulando, e o ar estava impregnado pela podre fumaça de cigarros baratos que me deixavam com ânsia de vômito. Um pequeno emaranhado de rostos tristes e sombrios se debruçavam sobre o balcão, bebendo cachaça ou cerveja, se contrapondo ao animado pagode que tocava no velho rádio. Na única mesa ocupada, quatro homens começavam uma discussão sobre os resultados dum carteado jogado pouco tempo antes, teoricamente com cartas marcadas. Nos fundos do bar, duas gordas muito feias, provavelmente putas, se divertiam nos caça-níqueis, enquanto me lançavam olhares maliciosos e sorrisos brejeiros, que só serviram para aumentar minha repugnância pelo lugar. Fui embora 2 minutos depois de chegar, enojado demais para pedir uma bebida.

2. LEVEMENTE EMBREAGADO: O lugar não era nada aconchegante, mas isso não era empecilho para quem quer apenas tomar mais algumas cervejas . No rádio, uma música alegre tocava, porém as pessoas que bebiam debruçadas no balcão não pareciam felizes. Quem certamente estava se divertindo eram as duas putas, não muito bonitas, que apostavam algumas moedas nos caça-níqueis do bar. Elas passavam os olhos por mim, deixando clara a idéia que eu poderia usufruir do corpo delas facilmente e por um bom preço. Cheguei a me sentir tentado, mas conclui que não valia gastar dinheiro com aquelas vadias. Pedi a segunda cerveja, e reparei nos homens que jogavam cartas na mesa ao lado. O jogo estava quente, dois dos participantes se xingavam e não demoraria muito para a ofensa virar agressão física. Achei melhor sair de lá para não me incomodar. Paguei as bebidas e sumi pela porta do boteco.

3. EMBREAGADO: Cheguei àquele lugar meio tonto após algumas doses de whisky. O bar parecia interessante, um bom lugar para me manter embriagado. Debrucei sobre o balcão e pedi para o garçom uma bebida forte. Ele trouxe cachaça. Um pagode animado tocava no rádio, e eu batucava com as mãos no ritmo da musica. Do meu lado, um negro de meia idade que bebia cerveja, e parecia ter um papo divertido. Tentei puxar uma conversa com ele, mas fui repreendido pelo negro, que não gostou e me pediu para ficar calado. Fiquei calado, e comecei observar o movimento do local. Reparei nas duas garotas que estavam nos fundos jogando os caça níqueis. Elas me olharam e deram um sorriso. Retribui o sorriso. As mulheres não eram muito bonitas, mas certamente eram safadas, e eu poderia terminar a noite dando uma boa trepada. Me aproximei das garotas e comecei uma conversa. Elas disseram que, pagando 20 reais, eu poderia passar a noite inteira fazendo sexo com as duas. Só então percebi que elas eram putas. Perguntei o que elas fariam por 5 reais. Não cheguei a ouvir a resposta, pois na mesa um pouco a frente de onde estávamos, começava uma briga entre dois sujeitos, um deles segurando uma garrafa quebrada . A luta ficava feia, e outros dois homens já se misturavam no confronto. Houve uma correria. As putas entraram no banheiro e eu quis entrar junto mas fui expulso por uma delas, que me deu um soco certeiro no nariz. Atordoado pelo murro, sai correndo para fora do bar, me esquivando da confusão. Continuei correndo freneticamente por mais algumas quadras, não sei bem porque. Pelo menos não precisei pagar a bebida.

4. GAME OVER: Cheguei cambaleando naquele pub exótico. Me sentei defronte ao balcão, onde algumas simpáticas pessoas tomavam suas bebidas. Pedi ao garçom uma garrafa de catuaba. Ele me trouxe, junto com um copo martelinho. Me servi e dediquei em, voz alta, um brinde a vida, sorvendo o líquido em um só gole. Todos no bar me olharam sérios, e ninguém quis brindar comigo. Só quem pareceu achar graça foram as duas belas garotas que jogavam nos caça-níqueis e sorriam para mim. Comecei a ficar animado. Um alegre pagode tocava no rádio, e eu me senti à vontade para dançar, sozinho, no meio do interessante pub. Enquanto eu dançava, as mulheres não desgrudavam os olhos de mim, e riam muito. Eu retribuía os olhares e sorrisos. Quando a música acabou, peguei a garrafa na mão e fui flertar com elas. Disseram-me que eram prostitutas, e fariam sexo comigo, as duas juntas, por 40 reais. Eu disse que não tinha tanto dinheiro, mas ofereci meu relógio, que devia valer uns 100 reais, para ter uma noite de amor com elas. As vadias pensaram um pouco e toparam, me convidando para ir com elas até o quartinho que ficava numa porta nos fundos do bar. Quando ia me encaminhando para o quarto, uma briga começou entre dois homens. As mulheres me chamaram para dentro do quarto, mas eu decidi que tinha que fazer alguma coisa para acabar com aquela confusão. Cheguei no meio da luta, que agora já envolvia quatro pessoas, com a melhor das intenções, tentando apaziguar a situação. Porém, levei uma garrafada na cabeça que me fez cair sangrando no chão. Lembro-me ainda de levar muitos chutes antes de desmaiar. Quando acordei, estava deitado num quarto de hospital, cheio de hematomas, e não sentia minhas pernas. Estava paralítico para sempre, e as putas haviam roubado meu relógio.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Ônibus

Depois de 30 minutos de espera, o ônibus finalmente chega. Completamente lotado. As pessoas se esmagam, seguram umas nas outras tentando permanecer de pé com alguma dignidade. Passo pela roleta e me esquivo lenta e dolorosamente até a parte traseira do coletivo. Tento imaginar coisas agradáveis para diminuir a tensão, mas não consigo. Depois de mais quatro tortuosas paradas, uma significativa leva de gentes sai em conjunto. Alguns dos bancos agora estão vagos, e saio em disparada até o acento mais próximo. O meu sucesso implica na expressão de desapontamento da gorda e transpirante senhora localizada pouco atrás de mim, que terá de permanecer mais algum tempo de pé. No ônibus, prevalece também a lei do mais forte, cada um por si lutando pelo direito mínimo de conforto. Eu triunfei, a gorda fracassou.

Começando...


Acho que a mente humana é demasiado caótica, como um emaranhado de idéias desconexas prestes a entrar em colapso. Alguns pensamentos são produtivos e até brilhantes, com potencial para realmente influenciar o ser humano a alguma forma de evolução. O curioso é que nestas mentes sempre existe um alter-ego louco, preguiçoso e extremamente confuso, um substrato cujo objetivo principal é estimular ao máximo o pensamento e, concomitantemente, dissipar o mais breve possível o potencial difusor das atividades neurais.

Por exemplo, quando algumas mentes peculiares reunem-se em volta de uma mesa de bar, e começam a formular alguma inovadora teoria acerca da existência, um dos participantes sem perceber revela aos demais o sentido da vida. Porém, apesar do caráter revolucionário deste momento, tudo passará de forma desapercebida pelos presentes, primeiro porque estes não tem a força de vontade necessária para organizar os seus pensamentos em algum meio de comunicação difusor e, principalmente, porque todos já estão muito bebadôs.