Kant
Ética e Moral
Em sua etimologia, a palavra ética vem do grego
“ethos”, que pode significar tanto costume quanto caráter, índole natural.
Conceitualmente, segundo Costa (2009),
“ética é a ciencia da conduta, que trata dos conceitos que envolvem o
raciocínio prático, como o bem, a ação correta, o dever, a obrigação, a
virtude, a liberdade, a racionalidade, a escolha” (p. 19).
Já a palavra moral, em sua etimologia, vem do latim
“moralis”, “moris”, com ambas as expressões significando costume. Costa explica
que, embora moral e ética possam ser entendidas como a mesma coisa, “a moral é
restringida a sistemas que se baseiam em
noções de dever, obrigação e princípios de conduta – enquanto a ética se limita
ao dito pensamento prático. (...) A ética seria como uma execução da filosofia
prática, lá onde a moral estaria suspensa num mundo de normas nunca plenamente
realizaveis” (p. 19-20).
Assim, estando
a o conceito de ética vinculado a aplicação
das questões morais no sentido prático, a palavra moral, por sua vez, passou a incorporar
um sentido mais filosófico e até normativo acerca das condutas humanas. Costa
indica que “a vulgarização operada pelo entendimento comum” tornou possível estabelecer uma diferença
entre ética e moral: enquanto a primeira encontra-se associada as normas de condutas
relativas as questões do próprio indivíduo, privadas, a segunda trata das
questões públicas, passíveis de serem universalizadas por uma sociedade (p. 20).
Partindo desta análise sobre a ética e moral, pode ser
elaborado um questionamento básico relacionado a atividade jornalistica: Em que
princípios básicos é fundamentada a moral a ser seguida pelo jornalista? O dilema ético no jornalismo recorrentemente
opõe um valor justo e bom a outro valor que, a princípio, pode ser igualmente tão
justo e bom quanto o primeiro.
Bucci (2002)
indica que “a ética só existe porque a comunicação social é lugar de conflito”
(pag. 10), e aponta que a ética jornalística baseia-se na busca por parâmetros
que ajudem o profissional a tomar uma decisão frente a duas alternativas
lícitas possíveis. Ele, então, analisa duas correntes éticas distintas, que
comparecem ao estudo da imprensa a partir do ponto de vista ético: a teleologia
e a deontologia.
utilitarismo e deontologia
A teleologia é baseada no utilitarismo, uma teoria
moral fundada por Jeremy Bentham e
desenvolvida por Stuart Mill, segundo a qual uma ação é moralmente correta se
promove o bem-estar e a felicidade para o maior número de pessoas posível. O
princípio utilitarista da maior felicidade baseia-se no conceito de hedonismo,
segundo o qual apenas o prazer é intrinsecamente bom e só o sofrimento é
intrinsecamente mau.
Pela corrente utilitarista, o jornalista teria que
calcular, dentre as alternativas possíveis, aquelas que irão trazer melhores
consequências para a sociedade como um todo. O trabalho e a veiculação das
informações deveriam ter maximizada sua utilidade em relação ao público. Porém,
Bucci apresenta a fraqueza desta filosofia quando aplicada ao jornalismo. “Como
pode um mero profissional da imprensa prever com eficácia as consequências dos
seus atos? Jornalistas não são profetas” (pag. 22). Uma vez que a informação
seja difundida, é impossível saber com precisão como ela será recebida pelo
público.
A outra corrente analisada por Bucci, a deontologia,
inspira-se na idéia do imperativo categórico de Immanuel Kant. Alvaro Valls
(1994) descreve os imperativos categóricos de Kant como sendo “as formas de
procedimento prático que possam ser universalizáveis, isto é, uma ação
moralmente boa é aquela que pode ser universalizável, de tal modo que os
princípios que eu sigo pudessem valer para todos, ou ao menos que eu pudesse
querer que eles valessem para todos” (pag. 40).
Kant entendia que, como seres humano racionais, todos temos
certos deveres. Alguns destes deveres são categóricos: em outras palavras, são
absolutos e incondicionais para o funcionamento da sociedade como um todo.
Deveres como “dizer a verdade”, “não roubar” ou “não maltratar ninguém” seriam
válidos sejam quais forem as consequências que possam advir da sua obediência.
Segundo Costa, “deontologia surge especialmennte para
dar sentido normativo a uma ética jornalistica” (pag. 223). Trata-se de uma
corrente filosófica principista, e é exatamente por não dar espaços a
relativismos que a ética deontológica pode tornar-se fraca em sua aplicação ao
jornalismo. Como decidir, por exemplo,
entre publicar ou não uma matéria que possa por em risco questões de segurança
nacional? Neste caso, o jornalista iria encontrar-se em um dilema ético envolvendo
os imperativos categóricos de verdade e responsabilidade. Bucci explica que “ela
(a ética deontológica) não ajuda muito a
decidir entre dois valores equivalentes. A outra fraqueza está em sua pretensão
de ser aistórica. Não há princípios, por mais racionais e universais que sejam, que não se modifiquem
no espaço e no tempo” (pag. 23).
Bucci esclarece que não há, entre os jornalistas, nem
utilitaristas puros nem deontologistas puros. “As duas correntes se mesclam,
com uma sutíl incliação para aquela que prevê a responsabilidade dos agentes
sobre seus atos e as consequências deles” (pag. 24). Ou seja, não há como fugir
à responsabilidade, que no jornalismo se configura no dever de bem informar o
público. Sobre os dilemas éticos éticos inerentes ao ofício jornalístico, Bucci
afirma que não há receitas acabadas que indiquem com resolver a todos, sendo que cada caso
deve ser analisado separadamente tendo em vista suas singularidades e
consequências. Ele finaliza afirmando que “qualquer debate ético adquire mais
qualidade e legitimidade quando travado publicamente” (pag. 25), de forma aberta
e acessível ao público.
Referências bibliográfica
BUCCI, Eugênio. Sobre ética e imprensa. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000.
COSTA, Caio Túlio. Ética, jornalismo e nova mídia. Rio de
Janeiro: Zahar, 2009.
VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. São Paulo: Brasiliense, 2008.
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