quinta-feira, 29 de outubro de 2009

50

Quinquagésima postagem. Agradeço a todos que aguentaram até agora.

Aproveito o espaço para afirmar o óbvio: David Lynch é um ET.

cera dus uvidu é bão! huhuhuhu

Do reino de Daslomba


Pois numa de minhas viagens conheci Fergêncio Pavão, que se tratava de um obeso mórbido, tremendo flatulento. Seus peidos eram famosos pela extrema retumbância, ecoavam alto por quilômetros, transpassando montanhas e vales inteiros. Em Daslomba, terra em que vivia para lá do Mar Austral do Norte, era tido como divindade, e era encarregado pela realeza de soltar seus gases antes das grandes festividades e nas oferendas a Espolustro, deus do Trovão. Na verdade este era um ritual tido como sagrado naquele pequeno reino encravado no meio das montanhas, um dom que era passado de pai para filho desde tempos imemoráveis.O ludibriante odor do peido era considerado purificador, e espantava os espíritos malignos.

Não se sabe que espécie de força divina ou mutação gênica havia nesta sagrada linhagem flátula, mas é interessante observar que todas as mulheres que pariam os Gasneas, como eram conhecidos, deveriam ser moças ruivas com 16 anos, cegas e sem pernas. Por isso era estimulada a proliferação entre ruivos em Daslomba. Porém, caso ainda assim não houvesse o espécime ideal para a reprodução, uma moça era escolhida para ter suas perna decepadas, seus olhos arrancados ou ambas as opções. Essa moça era considerada uma abençoada pelos deuses, uma sortuda.

Fui embora de Daslomba alguns meses depois, rumo as terras desconhecidas do Oriente Leproso, mas sempre guardei na memória esta fascinante estória. Certa feita, muitos anos mais tarde, fiquei entristecido ao saber por um caixeiro viajante que Daslomba havia se extinguido, após o brutal assassínio de Fergêncio Pavão. Atingido por uma flexada certeira de um jovem ateu, conta-se que explodiu quando morto, e encaminhando o último peido fez a terra tremer num devastador terremoto, que engoliu o reino inteiro. Uns poucos ruivos sobraram, e iniciaram a grande diáspora ruiva ao redor do globo.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

terra e trovão


Me digam,
que som é esse
que faz
tremer todo o chão?

Retumbando
as origens da terra,
explodindo
no bumbo o trovão?

É o Maracatu,
que vem
transcendendo
o tambor,

expressão
do puro calor,
do negro
em sua magia

domingo, 25 de outubro de 2009

gatos

aunque la lluvia
se esparce
y la noche
tarde a porvenir

Lo gatito
alborotado
se va llorando
en el amor

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Soledad traicionera


La soledad
es una virtud
a lo pocos valientes
que tienen
el corazón liberto

Sin embargo
los que cargan en el alma
Dolor, suspiro
y la angustia

Se ahogan
al olvido
de sus propios
lamentos

*foto de Felipe Martini

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

poemito da trepada


Na praça quase vazia
Bem longe
dos rincões do campo

O gaucho mateava
despacito
mirando los cuscos
trepando

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Teoría de Conjuntos


Cada cuerpo tiene
su armonía y
su desarmonía

En algunos casos
a suma de armonías
pude ser casi
empalagosa

en otros
el conjunto
de desarmonías
produce algo mejor
que la belleza


*de Mario Benedetti

domingo, 18 de outubro de 2009

Impressões de um final de tarde qualquer


Sentado na dura cadeira da varanda, vou sorvendo lentamente o mate e deixo penetrar em minha alma o resplendor dos últimos raios de sol. O majestoso balé de cores vai minguando sem pressa, anunciando que o prelúdio de uma nova noite não tardará a vir. Da amoreira carregada posso ouvir o piar dos pardais saciados, enquanto o sabiá pousado na retorcida tipuana observa o cenário com atenção. Timidamente, na imensidão do vazio infinito, vão cintilando as primeiras estrelas dum céu limpo, seu brilho tênue e esparso contrastando com a escuridão absoluta que perpetua-se pela rua pacata. A leve brisa faz sussurrar morosamente as folhas dos butiás, carregando para longe todas as angústias de mais um dia. Deitada ao meu lado, a fiel companheira canina dorme serenamente, indicando que tudo está em paz como sempre deveria ser.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Os discípulos de Shihabedin Fazlullach Naime Tebrizi Azterabadi al-Hurufi


Os hurufitas, doutrina originária da Ásia Central, eram cultuadores de números místicos, cabalistas e adivinhos. Acreditavam que a origem do mundo está nos números 28 e 32. Com a ajuda destas cifras, seria possível esclarecer o segredo de todas as coisas.

Segundo estes místicos, Deus manifestava-se por intermédio da beleza. Quanto mais bela era a obra, tanto maior a manifestação divina. Era este o critério que recorriam para avaliar qualquer fenômeno.

Seu grande líder foi Shihabedin Fazlullach Naime Tebrizi Azterabadi al-Hurufi, morto no Azerbaijão pela inquisição muçulmana, por volta do ano 1400.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Como interesses estadounidenses derrubam presidentes brasileiros


*Informações retiradas do livro “As Veias Abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano

1952 - Um acordo militar assinado com os EUA proíbe o Brasil de vender ferro aos Países Socialistas. Getúlio Vargas desobedeceu o acordo, vendeu o ferro para Polônia e Tchecoslováquia a preços muito mais altos que os EUA pagavam. As pressões norte-americanas sobre Getúlio foram enormes, podendo ser uma das causas de sua trágica queda.

1957 – A Hanna Minning Co. compra, por 6 milhões de dólares, a maioria das ações da Saint John Mining Co., que explorava ouro desde os tempos do Império. Localizada no Vale do Paraopeba, em MG, estima-se em 200 bilhões de dólares (na época, hoje isso corresponde a muito mais dinheiro) o patrimônio mineral do local comprado pela Hanna, maior reserva do mundo em ferro. Constitucionalmente, porém a Hanna não teria direitos de explorar o ferro no local, mas...
O diretor-presidente da Hanna era George Humphrey, que coincidentemente também Secretário do Tesouro dos EUA e diretor do banco norte-americano de finaciamentos ao comércio exterior. Com isso a Hanna conseguiu os vultuosos empréstimos necessários para financiar a exploração do ferro em Minas Gerais. Além disso, advogados, assessores e diretores da empresa ocupavam cargos estratégicos no primeiro escalão da política brasileira. Abutres do coronelismo como a família Bulhões, Roberto Campos, Lucas Lopes, todos ministros, deputados ou diretores militares de importantes orgãos públicos no Brasil e que obviamente tinham interesse nos vultuosos ganhos da Hanna. Foi assim que começou o mais furioso e poderoso lobby da história recente em nosso país, em busca da cessão para a Hanna dos direitos de exploração do ferro em MG, que constitucionalmente pertencem a união.

1961 – No dia 21 de agosto, Jânio Quadros assina resolução que anula autorizações ilegais de exploração concedidas a Hanna, repatriando o ferro do Paraopeba. Quatro dias depois, ministros obrigam Jânio a renunciar. “Forças terríveis se levantaram contra mim”, diz ele em seu discurso de renúncia.

1962 – Lincoln Gordon, embaixador americano, protesta ao presidente João Goulart contra o “atentado do governo brasileiro aos interesses dos norte-americanos”, pedindo que seja aprovada a concessão de exploração para a Hanna. O poder Judiciário já havia ratificado a moção do ex-presidente Jânio Quadros contrário a Hanna, mas Jango vacilava em dar o ponto final devido a grande pressão externa. Enquanto isso, o Brasil negociava um entreposto comercial para venda de ferro aos países europeus, alguns socialistas, o que influenciaria drasticamente no manejo dos preço das jazidas de ferro. As grandes empresas exploradoras, como a Hanna, não queriam que o Brasil vendesse o ferro mais barato, o que reduziria substancialmente o seu lucro, portanto se posicionaram contra este entreposto.

1964 - Enfim, num golpe maquinado pelos EUA, com apoio implícito dos diversos políticos da Hanna espalhados por Brasil e Estados Unidos, Jango é derrubado, acusado de incitar alianças com o comunismo. Homens da Hanna passaram a ocupar a vice-presidência (José Maria Alkmin) e três dos ministérios no primeiro mandato militar. Sobre o episódio, a revista Fortune escreve: “Para a Hanna, a revolta que derrubou Goulart chegou como um destes resgates de último minuto pelos primeiros da Cavalaria”. Já o Washington Star publicou: "Eis uma situação onde um bom e eficiente golpe de estado, no velho estilo dos militares conservadores, bem pode servir aos interesses da América" No dia 24 de dezembro, o presidente Castelo Branco concede o direito de exploração do minério de ferro a Hanna no vale do Paraopeba.