segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Como interesses estadounidenses derrubam presidentes brasileiros


*Informações retiradas do livro “As Veias Abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano

1952 - Um acordo militar assinado com os EUA proíbe o Brasil de vender ferro aos Países Socialistas. Getúlio Vargas desobedeceu o acordo, vendeu o ferro para Polônia e Tchecoslováquia a preços muito mais altos que os EUA pagavam. As pressões norte-americanas sobre Getúlio foram enormes, podendo ser uma das causas de sua trágica queda.

1957 – A Hanna Minning Co. compra, por 6 milhões de dólares, a maioria das ações da Saint John Mining Co., que explorava ouro desde os tempos do Império. Localizada no Vale do Paraopeba, em MG, estima-se em 200 bilhões de dólares (na época, hoje isso corresponde a muito mais dinheiro) o patrimônio mineral do local comprado pela Hanna, maior reserva do mundo em ferro. Constitucionalmente, porém a Hanna não teria direitos de explorar o ferro no local, mas...
O diretor-presidente da Hanna era George Humphrey, que coincidentemente também Secretário do Tesouro dos EUA e diretor do banco norte-americano de finaciamentos ao comércio exterior. Com isso a Hanna conseguiu os vultuosos empréstimos necessários para financiar a exploração do ferro em Minas Gerais. Além disso, advogados, assessores e diretores da empresa ocupavam cargos estratégicos no primeiro escalão da política brasileira. Abutres do coronelismo como a família Bulhões, Roberto Campos, Lucas Lopes, todos ministros, deputados ou diretores militares de importantes orgãos públicos no Brasil e que obviamente tinham interesse nos vultuosos ganhos da Hanna. Foi assim que começou o mais furioso e poderoso lobby da história recente em nosso país, em busca da cessão para a Hanna dos direitos de exploração do ferro em MG, que constitucionalmente pertencem a união.

1961 – No dia 21 de agosto, Jânio Quadros assina resolução que anula autorizações ilegais de exploração concedidas a Hanna, repatriando o ferro do Paraopeba. Quatro dias depois, ministros obrigam Jânio a renunciar. “Forças terríveis se levantaram contra mim”, diz ele em seu discurso de renúncia.

1962 – Lincoln Gordon, embaixador americano, protesta ao presidente João Goulart contra o “atentado do governo brasileiro aos interesses dos norte-americanos”, pedindo que seja aprovada a concessão de exploração para a Hanna. O poder Judiciário já havia ratificado a moção do ex-presidente Jânio Quadros contrário a Hanna, mas Jango vacilava em dar o ponto final devido a grande pressão externa. Enquanto isso, o Brasil negociava um entreposto comercial para venda de ferro aos países europeus, alguns socialistas, o que influenciaria drasticamente no manejo dos preço das jazidas de ferro. As grandes empresas exploradoras, como a Hanna, não queriam que o Brasil vendesse o ferro mais barato, o que reduziria substancialmente o seu lucro, portanto se posicionaram contra este entreposto.

1964 - Enfim, num golpe maquinado pelos EUA, com apoio implícito dos diversos políticos da Hanna espalhados por Brasil e Estados Unidos, Jango é derrubado, acusado de incitar alianças com o comunismo. Homens da Hanna passaram a ocupar a vice-presidência (José Maria Alkmin) e três dos ministérios no primeiro mandato militar. Sobre o episódio, a revista Fortune escreve: “Para a Hanna, a revolta que derrubou Goulart chegou como um destes resgates de último minuto pelos primeiros da Cavalaria”. Já o Washington Star publicou: "Eis uma situação onde um bom e eficiente golpe de estado, no velho estilo dos militares conservadores, bem pode servir aos interesses da América" No dia 24 de dezembro, o presidente Castelo Branco concede o direito de exploração do minério de ferro a Hanna no vale do Paraopeba.

Um comentário:

  1. é belo, sim, mas não é uma ode, e sim uma letra de música do uruguaio Jaime Roos (gênio!). E tem outras tantas estrofes que omiti. Ah, tu tem que ouvir!

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