sexta-feira, 15 de julho de 2011

Bem vindo, Sudão do Sul!


Com um olhar preocupante da comunidade internacional, nasceu o 193º país do planeta. No último sábado, dia 09 de julho de 2011, o Sudão do Sul proclamou-se independente. Esse evento põe fim a mais de 40 anos de guerra civil entre o norte e o sul do Sudão, num entrevero caótico de conflitos religiosos, étnicos e pelo abundante petróleo da região sul. O novo país africano partilhará com Somália e Afeganistão os piores indicadores sociais do mundo. A população local está em festa, esperançosa por mudanças, mas o Sudão do Sul terá imensos desafios pela frente. Infelizmente, sua história escrita pelo sangue de milhões é um exemplo de o quanto o ser-humano ainda é capaz de se exterminar por conta das diferenças, ao invés de compreender que são as diferenças que fazem do planeta um lugar tão interessante.


Uma história de exploração e massacres

As grandes diferenças que dividem o Sudão são visíveis até geograficamente. Os Estados do Norte são uma área desértica, interrompida apenas pelo fértil vale do Nilo. O Sul do Sudão é coberto por vastas áreas verdes, pântanos e florestas tropicais. No século VII, durante o período da expansão islâmica na África, o país foi tomado pelos muçulmanos. O sul escapou, no entanto sua população foi frequentemente explorada por caçadores de escravos. Nos séculos XIX e XX, o Sudão foi completamente dominado por egípcios e britânicos, apenas conseguindo alcançar sua plena libertação dos ingleses em 1956, durante a onda de descolonizações africanas. País dividido entre cristãos e muçulmanos, o Sudão é importante fonte de matérias primas estratégicas. Em função da proclamação da independência, iniciaram-se choques entre habitantes do Norte, árabes e islâmicos, e do Sul, predominantemente negros e não islâmicos.

Foram duas guerras civis entre o norte e o sul, com a parte sul sempre buscando maior autonomia regional em relação ao norte islâmico. Na Primeira Guerra Civil, meio milhão de pessoas morreram durante 17 anos de guerra, entre 1955 e 1972. A Segunda Guerra Civil Sudanesa foi ainda mais sangrenta. Ocorrida de 1983 a 2005, teve início quando o governo muçulmano do norte tentou impor a Charia (legislação islâmica baseada no Corão) em todo o país, inclusive no sul, onde a maioria da população é cristã e animista. O conflito deixou aproximadamente dois milhões de mortos e outros três milhões de refugiados.



Em 2005, 21 anos após deflagrada a guerra civil, foi assinado um Acordo Abrangente de Paz, que poria fim ao conflito e estabeleceria a paz entre os rebeldes do Sul e as forças governamentais e milícias do Norte. No entanto as agressões continuaram a ocorrer, apesar do sucesso das negociações, principalmente na Região de Darfur (ler próximo tópico). Em 2005, também foi assinada a Constituição do Sudão do Sul, que previa a realização de um plebiscito para decidir sobre a soberania do país ou sua permanência dentro do Sudão.

Em janeiro de 2011 o plebiscito foi realizado, e 99% da população local decidiu sobre a independência do Sul do Sudão em relação ao Norte. Na última sexta-feira (08), o presidente do Sudão, Omal Al-Bashir, reconheceu a independência do Sudão do Sul e a proclamação oficial finalmente ocorreu no sabado, dia 09 de julho de 2011. Apesar da independência, as fronteiras entre os dois países ainda não foram totalmente definidas.


O genocídio de Darfur

Concomitantemente, em meio a sangrenta guerra civil que dividiu o país entre muçulmanos e não muçulmanos, outro grave confronto eclodiu no Sudão por motivos políticos, e virou guerra entre árabes e negros. O conflito principiou em fevereiro de 2003, na região de Darfur, rica em petróleo, também no sul do país. O ponto de partida da ofensiva foram os rebeldes negros que lutam pela separação de seu território, afirmando que o governo a qual eram subordinados agia representando apenas a elite árabe. Darfur é composta quase totalmente por negros, com atividade econômica ligada à produção de agricultura de subsistência e uma restrita parcela de nômades que criam animais.O governo sudanês respondeu de forma violenta e repressora as ofensivas dos rebeldes separatistas. Apoiados pela milícia dos árabes que habitavam o local (chamados de janjaweed), o governo esperava acabar com os rebeldes que eram de religiões e etnias diferentes.

A mídia vem descrevendo o conflito de Darfur como um caso de limpeza étnica e de genocídio. Há acusações de violações dos direitos humanos, inclusive assassinatos em massa, saques e o estupro sistemático da população não-árabe do Darfur. A maioria das ONGs trabalha com a estimativa de 400 000 mortes no confronto desde 2003. Têm sido assinados alguns acordos de paz entre as diferentes facções em conflito, mas estes nunca respeitados. Nem a presença no terreno de uma força de paz enviada pela ONU consegue manter a segurança, e o genocídio continua.

Atualmente o Sudão enfrenta uma severa crise humanitária. Todo o poder da nação está concentrado nas mãos do presidente Omar Hasan Ahmad al-Bashir, que está no comando desde um golpe militar em 1989. O presidente é acusado de patrocínio a crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Al-Bashir foi acusado de ter "planejado e implementado o extermínio" de três grupos tribais em Darfur por motivos étnicos.



O contexto do novo país

O Sudão do Sul nasce com um triste recorde: é o lugar no mundo onde mais morrem grávidas e recém-nascidos, além de quase 90% das mulheres serem analfabetas. A AIDS se espalha como epidemia. Levará muitos anos até que o Sudão do Sul possa deixar de depender da assistência internacional. Existe carência de tudo: hospitais, escolas, esgoto, iluminação, polícia. Ainda assim, as pessoas estão otimistas, pensam que a vida vai melhorar da noite para o dia com a independência, depois de décadas de guerra. Mas tamanho otimismo não ilustra bem a cruel realidade.

O fornecimento de água é administrado por empresas privadas através de caminhões tanque, que percorrem as cidades enchendo reservatórios particulares. Ao menos metade da população do país não tem acesso a água potável. A mobilidade é outra das carências do sul do Sudão. Fora da capital, Juba (que possui umas poucas ruas pavimentadas) não há mais que estradas de terra, o que dificulta o trabalho das ONGs que atendem os povoados. Nos últimos meses, começaram a retornar muitos dos refugiados que deixaram o país durante a guerra civil, e muitos outros seguirão chegando com a independência. O aumento da população pode acabar agravando a já frágil situação da região, que terá que se construir a partir do zero.

Vital para a construção do Sudão do Sul é superar a insegurança interna. Em 2011, ao menos 1.800 sul-sudaneses morreram e 150 mil foram deslocados após renovados conflitos na fronteira, segundo a ONU. Disputas por terras e reservas de petróleo nas regiões fronteiriças de ainda trazem instabilidade ao novo país. O sul abriga 80% do petróleo sudanês, mas depende das refinarias do norte para exportar. Os Estados Unidos são o principal ator internacional no país e investem em infraestrutura, para fazer frente à presença chinesa no norte. A ONU já aprovou uma força de paz para o Sudão do Sul, com 7.900 homens.

O Brasil saudou a independência do Sudão do Sul prontamente. O reconhecimento de Estado e de Governo do novo país pelo Brasil foi efetuado no mesmo dia, mediante o estabelecimento de relações diplomáticas. O país reiterou, ainda, sua disposição em cooperar e em auxiliar o novo país a alcançar seu pleno desenvolvimento. Assim seja!



*com informações dos sites Wikipédia, Estadão, Arca Universal, G1, BBC Brasil e Reuters

Um comentário:

  1. este povo precisa pedir ajuda ao Deus todo poderoso que é o Sr Jesus Cristo.urgente.a palavra de Deus Liberta e resolve os problemas é so o homem buscar a Deus com fé e santidade aonde ouver dois ou tres reunidos em meu nome ali eu estarei.creia e obedeça a palavra de Deus.O Sr Jesus Cristo

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