segunda-feira, 26 de abril de 2010

Beijo


O beijo é a comunhão dos lábios
untado em esperanças vãs
embreagado de paixão e lirismo

O beijo, todos os sabores num só
doce qual o desabrochar da primavera
amargo como o fim deve ser

O beijo, sentido dos olhos cegos
atalho para as estrelas da noite
caminho para as incertezas do amor

O beijo, um sonho e um suspiro
desejo sedento em futuros estranhos
folhas secas caida no chão do passado

O beijo é o silêncio perfeito
horizonte distante de mares serenos
a beleza plena do querer sem palavras

O beijo sou eu, é você
o mais sublime poema jamais escrito
para sempre eternizado em nossos lábios

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Era uma vez uma hidra


Quando Jacques acordou, não encontrou ninguém em casa. Serviu uma caneca de leite para si e ligou a TV, mas todos os canais estavam fora do ar. Saiu para rua e continuou caminhando sem conseguir encontrar sequer uma viva-alma. Não haviam cães, gatos, ou mesmo qualquer formiga movendo-se pelo chão. Jacque sentiu então que algo muito extraordinário devia ter ocorrido enquanto ele estava dormindo seu sono profundo, e se assustou quando chegou ao centro da cidade. Tudo parecia morto, nenhum movimento, nenhum ser-vivo. Desesperado, vagava pelas lojas abandonadas com suas portas abertas, vasculhando em busca de respostas ao estranho incidente. Nada fazia sentido para Jacques, que desabou sobre seus joelhos, num mar de lágrimas, em plena avenida principal, que naquela hora deveria pulsar de vida intensamente, ao invés da completa solidão reinante...

Foi então que ele se lembrou que era o dia dos incriveis descontos na torta de maçã da confeitaria Vovó Zilá. Então, Jacques saiu correndo em direção a confeitaria e, para seu completo delírio, estavam todos lá! O Policial Quironcio, o padre Kleumar, o senador Filisteu, a morsa Lili, os protoclumbianos Kjap-4 e DujRF-65, os deuses Apolo e Baco, os rios Tigre e Eufrates, as libélulas Zuzu e Tatá, os mortos Jim Morrison e José de Alencar, a AIDS e o macaco-branco-de-tetas-espiraladas Negrusto.... Enfim, todas as criaturas existente e não existentes do universo estavam na confeitaria, comendo as deliciosas tortas de maçã da Vovó Zilá com descontos inacreditaveis! Só então Jacques se acalmou e pode comer seu pernil de hiena assado ao molho de avelãs em paz.

FIM

segunda-feira, 12 de abril de 2010

tempos turvos


Passaram fugazes os anos
e ainda aqui nós estamos
os mesmos passos desterrados
nos velhos vagões desgovernados
mais uma vez entregues
a sorte da brisa ao relento
novamente sós
tão perto, tão longe

ao certo que tudo é o mesmo
as paineiras cobrem-se majestosas
e os sabiás cantam vibrantes
para a alvorada cumprir sua sentença

mas na ausência de uma presença
até o igual com o tempo
torna-se estranho instrumento
singrando em frias paixões
Com tristes notas a ressoar

pois o infinito não dura mais
que uns poucos e raros instantes
inocente e distraído passante
na eterna névoa da espera

e a memória não é mais
que o próprio céu mortificado
centelhas de tantos passados
tão gastos quanto esquecidos

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O gigante do gelo em chamas e Audumbla, a vaca primordial

LEGENDA: Enquanto Imer bebe na teta de Audumbla, Búri é formado do gelo lambido pela vaca

De acordo com a mitologia nórdica, no início havia somente o mundo das névoas, Niflheim, e o mundo de fogo, Musphelhein, e entre eles havia o Ginungagap, o grande vazio no qual nada vivia. Em Ginungagap, o fogo e a névoa se encontraram formando um colossal bloco de gelo. Como o fogo era vigoroso e eterno, o gelo foi derretendo até surgir a forma de um gigante primordial, Ymir, pai de todos os seres. Ymir dormiu durante muitas eras, e seu suor deu origem aos primeiros gigantes. Foi também do gelo que surgiu a vaca gigante Audumbla, Mãe Terra e símbolo da fecundidade, cujo leite jorrava intensamente por suas tetas para formar os 4 grandes rios que alimentavam Ymir. Enquanto Ymir bebia o leite e ganhava novas forças, a vaca lambeu o gelo e fez surgir, das cálidas gotas que salpicavam os rochedos cobertos de neve, outro ser vivo e de forma humana, Búri. Búri depois gerou Borr, e este se casou com Bestla, filha de Bölthorn, o gigante. Juntos, Borr e Bestla tiveram três filhos, o primogênito Odin, Æsir primordial e deus maior do panteão nórdico, e seus irmãos, Vili e Ve. Os filhos de Borr enfim destroçaram o corpo de Ymir e, a partir de sua carcaça destruída, criaram o mundo. De seus ossos e dentes surgiram as rochas e as montanhas e de seu cérebro disperso surgiram as nuvens.