sexta-feira, 27 de novembro de 2009

flor-do-paraíso


Quantas coisas brotam
Num coração desalentado
Ao ver o sol postado
Tão airoso, tão alto
Suas pequenas carícias
arrepiando de mansinho
as pelúcias das nuvens

Doce amor primaveril
Se espalhando matreiro
nos enervados elogios
dos bem-te-vis
as abelhinhas

que amiúde vão construindo
seu castelo colorido
entre as flores coloradas
tão certo chamadas
de flores-do-paraíso

E é tão guapa a tristeza
deste quadro eternizado
No vazio de um pensamento
tão perdido e solitário

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O sonho


Oh, gigante pequenina
cintilante bailarina
confidente colombina
porque dormes tão distante?

Te pergunto e não respondes
some em névoas pela noite
mas retorna galopante
quando imploro companhia

Pois então, minha estrelinha
rogo-lhe um simples pedido:
viver no sonho infinito
duma aurora congelada

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Experifactus drumnas insandencidades

.....A maça de doces nachos quentes surge onde a verde macarronada dançarina posta seus empastelados jabutis, deixando siempre claro de onde vem a desunião das corcovas naftalinas. Rufam as portas de pumpum faz coco e entonces os marimbondos imundos e abutres do globo cospem nas telas de begônias, haciendo pulverizar a estranha servidão neo-pentecostal do advérbio female(que contava com apoio das feijoadas a base de cú desenvolvidas em laboratórios suicidas). É por essa que o velho John Farsiulugu Rasmulokin du Pé Chato recitava, em suas verticais profecias do sagrado satanismo de Jesalabuda sobre tirania em Hisglano-Sina,as travessuras do gato Dreznindyka Guterres (que bebia da urina vomitada das narinas de Plutão e saia flyando por ai, mas sempre preso no chão).....

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Desconstrutivismo Antropofágico


O brasileiro, signo de misturas, vendido por muito tempo ao colonialismo ideológico cultural europeu e norte americano, escravidão da mente, placebo ignóbil, vazio de identidade. Estamos caindo, caindo, caindo no abismo do niilismo atomizado do nada, um novo dilúvio com centenas de Noés desorientados. A antropofagia é o caminho, devorando bravos guerreiros, ignorando o pressuposto de generalização cultural, buscando a descentralização, lutando pela identidade nacional pura, pura, brasileira, tupiniquim. O homem só não utiliza ao máximo seu potencial porque tem medo de encarar e querer a subjetividade de outrém. O experimentalismo é mágico e lindo, evoquem o contexto mestiço, a liberdade para investir apenas o que interessa num sistema de pensamento novo, idealizem o primitivo e a irreverente mistura que ignora hierarquias culturais. Não há humanidade boa ou má, tudo é igualmente bastardo, nunca aderir absolutamente a qualquer sistema de referência, “contra todos os importadores de consciência enlatada, a existência palpável da vida”. Matem o racionalismo europeu exacerbado, inibidor do sentimentalismo carnavalesco do
indio-negro-mestiço-branco-chinês-da-cabeça-chata brasileiro,esta erudição imitada que mente para si mesma, deprimindo o povo coni-conveniente. Idealizem a vida como vida vivida, e não os simulacro do real, extraditem o gordo Papai Noel de volta para sua fria neve. Fiquem nús, mostrem a beleza verdadeira dos corpos desnudos, desconstruam as mentiras impostas e lutem sempre, sempre, sempre, sempre.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Análise metasurrealista do fime Eraserhead, de David Lynch


"Quem luta com monstros deve velar para que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti" - Friedrich Nietzsche

Eu tento dormir, mas não posso, minha cabeça quer explodir. Ela precisa explodir, sabe que é o melhor que tem a fazer. Além disso os pesadelos são horríveis, os vermes tem dentes enormes. É melhor ficar acordado mesmo, apesar da total exaustão causada por 80 horas ininterruptas sem sono. O mundo parece ter desaparecido completamente a minha volta. Não tenho mais emprego, amigos, família ou qualquer coisa. A televisão não tem mais sinal, as portas do apartamento estão todas trancadas. Agora, só existimos eu e o MONSTRO, não há tempo, e o espaço é restrito ao que nossos olhos vêem. As vezes até mais curto que isto.

Tento comer umas bolachas, mas de que adianta? A comida não tem qualquer sabor, porém também não sinto mais fome. As frutas estão ficando todas podres e enchem-se de larvas nojentas e gordas. As plantas morreram, o cachorro morreu de fome, todas as coisas estão morrendo. Não há mais salvação, tudo está perdido. Só o que cresce são estes vermes malditos e o MONSTRO, que fica cada vez maior e grita cada vez mais alto. Seu choro não é um choro humano, mas o guincho dum tipo de sapo agonizante, martelando insistentemente no meu cérebro debilitado.

Vou ao banheiro e minha urina vem acompanhada de uma dor lancinante, pois pela uretra dilatada saem esguichos de sangue com pequenas larvas, abortos involuntários de um corpo cada vez mais degenerado em si. Os vermes, ainda perdidos no pandemônio do momento, lentamente vão subindo as paredes da privada, saindo em busca de comida para enxertar suas feias carcaças. Tento me olhar no espelho, contudo percebo que não tenho mais reflexo. No lugar da minha cabeça, só consigo enxergar a cabeça do MONSTRO.

Me vou lentamente até o quarto onde chora o MONSTRO. Abro a porta. É o único lugar quente do apartamento, todos os outros cômodos estão muito gelados. Deitado sobre a cama, uma pulsante geleia visceral amorfa, e a cabeça deformada com uma boca em forma de ferida aberta. Por todos os lados uma infinidade de vermes. Não mato mais estes vermes, pois dos restos de um acabam brotando outros três ou quatro. São uma praga incontrolável, começaram vindo em minhas fezes, agora estão em toda a parte.

Não sei ao certo quando isso tudo teve início. Pode ter sido há uma semana, um ano ou uma eternidade. Perdi a noção do tempo a nem sei quanto tempo. Só lembro que um dia o MONSTRO foi deixado em minha porta, numa cesta sem bilhete. Por mais bizarro que parecesse, não fui capaz de deixar aquele ser morrer a míngua. Na verdade me sentia muito próximo daquela coisa, como se ela fosse parte de mim. E estava lá, pequeno, indefeso, então eu dei comida para ele. Minha mulher não gostou da idéia, mas também sentia pena, não se opôs completamente.

De início não chorava tanto, apenas quando queria comida. O alimentava-mos umas três vezes ao dia, ele se saciava e parecia dormir. Ficava numa pequena caixa forrada no quarto de hóspedes. Quando saia para trabalhar, minha mulher tomava conta dele. Então, começaram os pesadelos, os vermes que comiam primeiro a minha carcaça, depois o cérebro. E o MONSTRO ficou doente, chorava cada vez mais e mais, e por isso precisava de cada vez mais e mais atenção. Minha mulher perdeu a paciência, pediu para que me livrasse dele. Mas eu não podia fazer isso, não podia deixar o MONSTRO morrer, ele estava ali completamente frágil, era minha obrigação protegê-lo. Comecei a ficar relapso no trabalho, deixei qualquer tipo de vida social de lado, parei de assistir televisão. Só queria que o MONSTRO se recuperasse logo, vivia para cuidar dele. Mal percebi quando minha mulher me abandonou. Meu emprego simplesmente esqueci, o telefone ficou mudo por falta de pagamento, o cão implorava em vão por comida. A campainha tocou algumas vezes, mas fingi que não estava, não queria ver ninguém. Enquanto isso, o monstro se recuperara da doença, mas agora estava maior, e chorava mais. Nisso já haviam muitas larvas espalhadas pela casa também, mas em minha ignorância eu as matava para que não machucassem o MONSTRO.

Os pesadelos eram cada vez mais freqüentes, envoltos numa confusão de signos sagrados, demônios e vermes. A morte rondava meu inconsciente, figurava incômoda, contudo paradoxalmente piedosa. Mas em geral não conseguia dormir mais que umas poucas horas, pois o MONSTRO guinchava alto, precisava de atenção para se calar. Sentia meu corpo todo deveras debilitado, enxaquecas horríveis pareciam alertar o absurdo daquela situação. Comia muito pouco, mas o MONSTRO devorava tudo a sua volta. Não entendia de onde saiam tantos vermes, comecei a ficar impaciente. Tinha que sair de casa, comprar alimentos, pegar um ar fresco. Mas a porta estava incrivelmente pesada, e eu me sentia tão exausto que decidi ficar mesmo no apartamento.

Em pouco tempo o esmero irracional que eu tinha para com o MONSTRO foi minguando até tornar-se em uma raiva exposta. Seu choro estava me enlouquecendo, não sabia o que fazer para cala-lo. Num lapso de consciência tardio, percebi que havia arruinado minha própria vida por causa daquela coisa. Ainda que me sentisse ligado a ele, como se fosse uma parte repulsiva da minha essência instintiva, agora sabia que o melhor a fazer era acabar com tudo de vez. Fui até a cozinha e o cão estava lá, morto, putrefato, repleto de larvas. Não dei muita atenção, o cheiro não incomodava. Peguei a faca mais afiada e me dirigi ao quarto anexo.

O MONSTRO estava lá, berrando como sempre, mas se calou quando cheguei. Com seus olhos de bagre, cinzentos e vazios, observava com curiosidade o artefato. Parecia tranqüilo, até alegre em minha presença. Acabei hesitando um momento frente a fragilidade daquela criatura, afinal não era do meu feitio uma atitude tão brutal. Mas não, não estava certo, aquela loucura tinha que terminar! Abri lentamente o manto que recobria o minúsculo corpanzil do MONSTRO. Percebi que ali haviam órgãos dispersos num emaranhado de ossos mal formados, mas era latente a falta de um tecido capaz de revestir o núcleo. Haviam vermes dentro dele, rastejando de lá para cá. O MONSTRO começou a chorar novamente. Logo encontrei aquele que seria o seu coração, pulsando rapidamente frente a proximidade da faca. Num golpe rápido e intuitivo, o choro cessou.

Tudo havia acabado, o monstro estava morto. Sem remorsos, cobri o pequeno cadáver com uma toalha e afundei na cama...

“... está tudo bem. os vermes caem do teto, surgem por todos os lados. Vou esmagando um por um com fúria e crueldade. Está tudo bem. Com um lança chamas vou instantaneamente carbonizando dezenas. Golpes violentos com um gigantesco martelo dourado destroçam mais alguns, abrindo fendas no chão por onde outros caem. O chão se fecha, não possibilita que eles voltem. Está tudo bem. As carcaças das nojentas criaturas se espalham num mar de fluidos verde, jazem estáticas no chão e nada brota da gosma. Está tudo bem...
... Não caem mais vermes do teto, que em ondas vai mudando de coloração. Estranha hipnose. Um piar de pássaros ecoa longe. Está tudo bem. O teto parece estar se aproximando numa dança em lilás e verde. O piar se torna o assobio de uma chaleira ao ficar mais audível. Está tudo bem. As paredes começam támbém caminham em minha direção. A gosma verde borbulha. O teto fica negro em sua totalidade e já não posso me manter de pé. Está tudo bem. Tenho que me agachar, o espaço vai se tornando cada vez mais restrito, e tudo está escuro fora o chão verde que vai se moldando numa estranha forma. O assobio agora assume tons agudos insuportáveis para meu cérebro. Paredes e teto me comprimem deitado no chão em fusão com a putrefata massa verde que virou o MONSTRO. Começo a vomitar e só termino quando me sufoco em meus próprio dejetos, com um olhar vidrado dentro da mente do MONSTRO, ouvindo os berros de um lamento eterno...”

O choro do MONSTRO. Ele estava lá, retornado do inferno, no mesmo lugar e ainda maior. Acordei num pesadelo. Tentei matá-lo diversas outras vezes de diversas outras formas, mas ele sempre retornava, cada vez maior, uma massa disforme e a cabeça abortada. Repleto de vermes. Alimentava-se dos vermes, alimentava-se de si mesmo. Então desisti, percebi que não haveria fim. Pois eu criei o MONSTRO, eu o tornei forte, invencível, não tenho mais como impedir que se sobressaia. Dei-lhe minha força, meus sonhos, minhas alegrias, minha vida. O MONSTRO sou eu, e de mim sobrou apenas medo e preguiça.

O tempo esta morrendo, as cores estão morrendo, não existe mais nada para se ver. O espaço está cada vez mais fechado em si, rodopiando confuso nas curvas do tempo. As janelas dão para uma parede de tijolos cinzas, espalhando-se monotonamente, eternamente, por todos os lados do horizonte aprisionam minha vista. As portas estão trancadas, e mesmo que estivessem abertas não tenho força para sair. Tudo é frio, mas logo irá acabar. Me deito ao lado do MONSTRO que sossega na minha presença, e observo os vermes passeando pelas paredes apodrecidas que começam a se desfazer. Eles também passeiam sobre mim, saem da minha boca, entram em meus ouvidos, choram por meus olhos. Minha cabeça se desprende do corpo, flutua fora de órbita tranqüila, pois vai explodir. Está tudo bem.