quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Do reino de Daslomba


Pois numa de minhas viagens conheci Fergêncio Pavão, que se tratava de um obeso mórbido, tremendo flatulento. Seus peidos eram famosos pela extrema retumbância, ecoavam alto por quilômetros, transpassando montanhas e vales inteiros. Em Daslomba, terra em que vivia para lá do Mar Austral do Norte, era tido como divindade, e era encarregado pela realeza de soltar seus gases antes das grandes festividades e nas oferendas a Espolustro, deus do Trovão. Na verdade este era um ritual tido como sagrado naquele pequeno reino encravado no meio das montanhas, um dom que era passado de pai para filho desde tempos imemoráveis.O ludibriante odor do peido era considerado purificador, e espantava os espíritos malignos.

Não se sabe que espécie de força divina ou mutação gênica havia nesta sagrada linhagem flátula, mas é interessante observar que todas as mulheres que pariam os Gasneas, como eram conhecidos, deveriam ser moças ruivas com 16 anos, cegas e sem pernas. Por isso era estimulada a proliferação entre ruivos em Daslomba. Porém, caso ainda assim não houvesse o espécime ideal para a reprodução, uma moça era escolhida para ter suas perna decepadas, seus olhos arrancados ou ambas as opções. Essa moça era considerada uma abençoada pelos deuses, uma sortuda.

Fui embora de Daslomba alguns meses depois, rumo as terras desconhecidas do Oriente Leproso, mas sempre guardei na memória esta fascinante estória. Certa feita, muitos anos mais tarde, fiquei entristecido ao saber por um caixeiro viajante que Daslomba havia se extinguido, após o brutal assassínio de Fergêncio Pavão. Atingido por uma flexada certeira de um jovem ateu, conta-se que explodiu quando morto, e encaminhando o último peido fez a terra tremer num devastador terremoto, que engoliu o reino inteiro. Uns poucos ruivos sobraram, e iniciaram a grande diáspora ruiva ao redor do globo.

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