sexta-feira, 9 de julho de 2010

O guarda-chuva


Sexta-feira. A chuva caia pesada. O velho guarda-chuva preto aberto, com sua velha estrutura aleijada, servia pela penúltima vez em sua função. Foram praticamente dois anos de parceria, uma verdadeira eternidade para um item que, historicamente, some tão facilmente quanto quebra. Dois anos aninhado junto a minha mochila, praticamente em ostracismo durante a maior parte do tempo. Mas sempre que foi preciso ele estava lá, enfrentando chuviscos e tempestades. Vai me acompanhando pela penúltima vez, na última subida da lomba. Comprado por cinco reais em um camelô. Um rápido escambo e o guarda-chuva já era aberto para sua estreia. Dois anos atrás, época de agitação, trabalho novo, novas decisões. Tempos muito diferentes, ambições muito diferentes. O mundo louco sempre girando, mas alheio a tudo o guarda-chuva estava lá. Pela penúltima vez hoje, o guarda-chuva me acompanhava até a entrada do trabalho...

... deixo o prédio da Assembleia Legislativa. Após dois anos, me despeço da rotina, novos caminhos me aguardam. Agora são apenas velhas lembranças, nostalgia. Sonhos que ficaram pelo caminho, outros que se concretizaram. A vida segue, sempre. E a chuva também segue, para o último esforço do guarda-chuva. Com dificuldade ele se abre, uma estrutura moribunda, judiada. O pequeno guarda-chuvas, pequeno guerreiro negro, o menor de todos, comprado porque ocupava pouco espaço. Acompanhando minhas pesadas passadas lomba abaixo, seus últimos momentos em minhas mãos. Chego no carro que deixarei para trás, na cidade que deixarei para trás, com as lembranças que não deixarei para trás. Fecho o guarda-chuva que deixarei para trás, o coloco delicadamente no parapeito de um prédio próximo. Seu destino não está mais em minhas mãos, sem despedidas, nunca mais. Nunca mais...

2 comentários:

  1. A mudança de ares é algo indispensável para continuarmos vivendo! Como é boa essa ansiedade...

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