Rei Luís XIV, da
França, foi um dos difusores "de la cravate" no século XVII
Muitas conquistas da
humanidade com o tempo caíram no esquecimento, mas algumas, embora não
mencionadas nos livros de história não dependeram deles para entrarem na
cultura global. Os croatas alcançaram uma conquista semelhante no século 17, e
as consequências desta conquista ainda estão presentes no mundo inteiro. Sua
influência na vida diária de 600 milhões de pessoas se encontra ao redor de
seus pescoços, entre uma camisa e um paletó, vestindo um símbolo universal de
uma nação, como um abraço de um amigo: a gravata.
No livro "La
grande Historie de la Cravate"
(Flamarion, Paris, 1994), Francoise Chaile nos conta sobre os aspectos deste
ícone da moda e sua posterior difusão: "(...) Por volta do ano de 1635, um
grupo de 6 mil soldados e cavaleiros vieram a Paris manifestar seu apoio a Luis
XIII e Richelieu. Entre eles havia um grande número de mercenários croatas que,
separados pelo exílio, permaneceram a serviço do rei Francês. (...) O uniforme
tradicional destes Croatas despertavam a atenção pelo curioso xale amarrado de
uma maneira muito exclusiva ao redor de seus pescoços. Os xales eram feitos de
vários tecidos, desde os grosseiros tecidos usados pelos soldados ao fino
algodão e a seda dos oficiais. A elegante "moda Croata" imediatamente
conquistou a França, que regalou-se por este novo item de moda, o qual era, até
então completamente desconhecido na Europa"
A indumentária, usada
tanto por homens quanto por mulheres, recebeu o nome de cravate, que significa
"croata" em francês . A partir de então, toda a corte francesa (que
há 4 séculos atrás já eram lançadores de moda), e inclusive o próprio rei Luís
XIV, passaram a usar a gravata habitualmente. No século XVII, o assessório era
feito de tiras de tecido (geralmente linho branco muito bem engomado) enroladas
no pescoço formando uma cascata na frente. A extremidade era enfeitada com
rendas e pregas.
Dos dândis a difusão
Após a Revolução
Francesa, a moda masculina ficou mais sóbria e vários elementos caíram. Mas a
gravata continuou forte. E no começo do século XIX, o inglês Bryan Brummel
criou um novo estilo que reforçou o símbolo de poder das 'cravatas': o
dândi. Marcadas pela sobriedade, as
roupas dândis não levavam acessórios, jóias ou bordados. Além de calça
comprida, colete e casaco, os dândis usavam uma gola alta com um lenço com nós
sofisticados.
Segundo uma
reportagem da revista americana "Forbes", nos anos 1800, se um homem
tocasse o lenço no pescoço de outro a ofensa era tanta que poderia acabar em
duelo. Ainda de acordo com a "Forbes", a gravata moderna (longa e
distinta, como a utilizada em conjunto com os ternos hoje em dia) surgiu em
1860, quando se começou a amarrar o lenço como os nós das rédeas de carruagens
de quatro cavalos - o hoje chamado 'nó simples'.
Embora as variações
no estilo tenham mudado ao longo do tempo, a gravata sempre foi símbolo de
poder e de respeito. "Os Exércitos do século XVII eram compostos de
nobres. O lenço no pescoço sempre simbolizou status e formalidade. Até hoje ela
é usada em ocasiões formais."
indica Miti Shitara, professora de história da moda da faculdade Santa
Marcelina, ao site G1.
A
própria Miti Shitara reconhece a importância dos croatas na difusão da gravata,
mas complementa dizendo que sua história remete há milênios atrás: há registros
de uso de lenços no pescoço por soldados chineses ainda no século III A.C. , e
também entre o Exército da Roma Antiga, como sudário. "O lenço protegia
não só do calor, mas também servia para estancar sangue e limpar a boca, por
exemplo."
Hoje
representante da masculinidade, a gravata mudou de formas algumas vezes durante
o século XX. "Na década de 1930, na época de recessão econômica, as gravatas
ficaram largas, os ombros cresceram, e as lapelas também. Pode-se interpretar
como um contraponto de uma fragilidade em que o homem precisa se tornar forte.
Na década de 1970 aconteceu algo parecido. Não me surpreenderei se agora, em
meio a essa crise, uma gravata mais larga voltar a aparecer", explica a
professora Shitara.
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