terça-feira, 4 de novembro de 2014

FILOSOFANDO SOBRE A MÍDIA (Parte 1): Aldeia Global, Senso Comum e Textura da Experiência



Por Guile Rocha


A mídia é uma verdadeira entidade, heterogênea e em constante transformação. É o principal alimento informacional do ser humano, e implica a existência de um processo social (em que seres humanos trocam mensagens com determinados efeitos, através de um canal e dentro de um contexto,) e uma atividade social (onde pessoas, imersas em uma determinada cultura, trocam signos e significados). Roger Silverstone ('Por que estudar a mídia?' - 1999) pensa na mídia como "algo em curso e feita em todos os níveis que as pessoas se congreguem no espaço real ou virtual. É onde se comunicam, onde procuram persuadir, informar, entreter, educar, onde procuram, de múltiplas maneiras e com graus de sucesso variáveis, se conectar umas com as outras” (1999, SILVERSTONE).

Aldeia Global

 Assim, é inegável que a mídia é um poder que tem o controle majoritário sobre a informação, bem como de sua propagação e distribuição. Ainda que o poder da mídia esteja - do ponto de vista financeiro e de difusão de sua mensagem institucional - concentrado na mão de uns poucos, novas formas de interação social vêm transformando radicalmente nossa percepção sobre a mídia. Possibilitadas pela popularização das redes sociais, a noção de Aldeia Global proposta pelo filósofo canadense Marshall McLuhan, ('A Galáxia de Gutemberg' - 1962) tornou-se passível de concretização, possibilitando que varias 'tribos' diferentes estivessem interligadas e executando intercâmbio cultural por um meio comum: a internet.
Está diretamente ligada a formação de uma aldeia global a ideia de globalização, que foi ocasionada primeiramente pelo desenvolvimento dos meios de comunicação e transporte e possibilitou um fluxo maior de informações e pessoas. Esse processo gerou uma enorme rede ou teia de dependências mútuas entre todas as regiões do globo, "possibilitando que as pessoas se intercomuniquem diretamente umas com as outras, independentemente da distância, como em uma aldeia" (MCLUHAN, 1962).
O crescimento de canais midiáticos alternativos é a tendência natural desta construção da realidade social da geração internet, recheada de pontos de vistas diferentes em busca de alguma conciliação. O numero de vozes que se fazem ouvir cresceu drasticamente, e se antes eram apenas um punhado de jornais,canais de televisão e estações de rádio que concentravam o poder de transmitir informação, hoje qualquer pessoa no mundo está pré-condicionado a ser um comunicador para massas. Tudo depende da forma com que a informação de cada pessoa é tratada e propagada no meio virtual.

FORMAÇÃO DO SENSO COMUM

Principal detentora do poder comunicativo, e amplificada por cada vez mais canais (via internet), esta complexa entidade que é a mídia tem papel crucial na formação do senso comum, as crenças e proposições que aparecem como normais na sociedade. O senso comum que, a meu ver, é conservador por natureza, mas progressista por vocação (ARAUJO SANTOS, 2014), ou seja: é tanto expressão quanto pré-condição da existência humana, e se por um lado mantém as coisas como estão e reproduz o status quo da sociedade, por outro lado vai aos poucos se transformando e abrindo espaços para mudanças variadas.
Tendo como local de encontro o senso comum, o discurso da mídia e das pessoas dependem um do outro. Juntos, eles permitem moldar e avaliar sobre a experiência da realidade social que é compartilhada por nós, seres humanos. Silverstone (1999) diz que a mídia depende do senso comum, reproduz e recorre a ele, mas também o explora e distorce. "É pelo senso comum que nos tornamos aptos a partilhar nossas vidas uns com os outros, bem como distingui-las".

A textura geral da experiência

Devemos estudar a mídia a partir de sua contribuição para a textura geral da experiência, seu papel de naturalmente transformar a  dimensão social e cultural da realidade. A textura da experiência se expressa, por exemplo, num momento de televisão: ínfimo e insignificante por um lado, cheio de significados e simbolismos pertinentes por outro, arranhando a superfície da sensibilidade do ser humano social  "Passamos a depender da mídia, tanto impressa quanto eletrônica, para fins de entretenimento e informação, de conforto e segurança, para ver algum sentido nas continuidades da experiência e também, de quando em quando, para as intensidades da experiência" ( SILVERSTONE, 1999 )
A mídia é reflexo de nossa experiência compartilhada como seres humanos, é parte da construção da realidade social e meio para articular um mundo possível  (ALSINA, 1999) . Sua onipresença e sua complexidade são algo que contribui para nossa variável capacidade de compreender o mundo moderno, produzir e partilhar seus significados.


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