sexta-feira, 19 de junho de 2009

dialogo existencialista


Auã esmurruga a erva e fecha o baseado com habilidade. Em poucos minutos estamos fumando e divagando sobre a vida, entorpecidos pelo selvagem odor da cannabis em nossas mentes. Um programa sobre adestramento de cachorros passa na televisão.
- Que porra meu. Como a vida seria muito mais fácil se nós fossemos simples cachorros, irracionais e abobados, não é?- sugeri
- Pois é... Seria mais fácil mesmo, mas é exatamente esta simplicidade que separa o restante dos animais do homem.
- Ok, mas e o que ganhamos com essa separação?
- Se não tivéssemos, por ocasião do destino, descido das árvores e começado a comer carne, nosso cérebro não evoluiria e seriamos macacos vivendo apenas dos instintos. Daí não teríamos capacidade de raciocínio para estar tendo esta conversa subjetivamente articulada agora.
- Tudo bem, mas qual a grande vantagem desta fudida capacidade de raciocínio? O que de tão bom ganhamos com uma comunicação sofisticada e tecnologia de ponta, celulares, hambúrguer, filosofia ou kama-sutra?
- Muita coisa. O raciocínio possibilitou nosso crescimento intelectual e nossa prosperidade no mundo diante dos outros animais.
- Só que se ainda fossemos macacos não iríamos pensar para querer essa superioridade, teríamos a ignorância para nos proteger. Passaríamos a vida inteira rindo, fudendo e pulando de galho em galho.
- Se fossemos macacos, ainda estaríamos lutando por nossa sobrevivência contra leões e onças, as doenças encurtariam muito nossas vidas sem a medicina. Hoje temos a segurança e a liberdade para decidir um rumo para nossas vidas e estabelecer nosso lazer como bem entendermos, com sexo, futebol, sinuca e drogas para sanar nossas necessidades. Nossos meios de diversão tornaram-se mais sofisticados também.
- Mas toda essa evolução e arrojo intelectual só fez surgirem angústias e dilemas cada vez mais profundos! A medida que nossas cabeças evoluem, questionamos nossa própria existência, e chegamos a um enorme labirinto sem respostas. Um cachorro não tem estas preocupações, não fica se indagando sobre o que o futuro lhe reserva, para onde irá após a morte ou sobre como conseguir dinheiro para comprar uma caralhada de coisas. Estes questionamentos não ocorrem na cabeça de um cachorro, que simplesmente vive a porra do seu presente, plenamente satisfeito com o que tem. Ele não precisa de mansões luxuosas em Miami, viagens para as Ilhas Gregas ou até mesmo um baseado para ser feliz. Uma maldita bolinha de tênis quicando em sua direção já basta para isto.
- Vendo por este lado é verdade. A razão implica na consciência dos nossos atos, e isso nem sempre é bom. Mas nos não vivemos apenas do instinto, a evolução nos fez como somos e não há com quem reclamar se está certo ou errado. Se Deus fudeu tudo, é tarde para contestar. O que temos que fazer é tentar pensar menos e agir mais, ocupar a cabeça com o presente e deixar o futuro para os adivinhos – finalizou Auã, e já estou muito cansado para outra réplica.

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