terça-feira, 30 de junho de 2009

Ontem eu quase morri [verídico]


Para quem ainda não sabe, entra no link ai ó...

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São 6h45min quando me levanto. Acordar cedo é foda, ainda mais numa segunda-feira. Coloco a primeira roupa que vejo na frente, e saio correndo para levar minha mãe na rodoviária. O ônibus parte as sete e meia, e como todo brasileiro, sair esgoelado no horário é natural. Não tomo café, não tiro as remelas do olho e sequer dou aquela sagrada mijada matinal. Simplesmente ligo no automático, entro no carro e vou.

No caminho até a rodoviária, minha mãe abre a matraca e não para mais. Acho que nem percebe meu interesse nulo na conversa matinal, já que minha mente prefere ouvir a música que toca no rádio. Só presto atenção aos tópicos principais. “Blábláblá blábláblá te cuida com essa gripe suína, meu filho, porque blábláblá bláblá...” , ou, “blábláblá bláblá tá na hora de fazer um plano de saúde pra ti, porque blábláblá blábláblá...”. Eu vou respondendo com, “pois é”, “aham”, “vamos ver”, e isto parece satisfazer a necessidade de manter o seu monólogo quase ininterruptamente.

Me despeço dela na rodoviária, e sigo em paz com a música em direção a faculdade. Vou chegar bem cedo, espero que tenha alguém para jogar uma sinuca na Fabico. Penso como é tranqüilo dirigir nesta hora da manhã, pouco antes da babilônia sonora e material que certamente virá na hora rush. Entro na rua Garibaldi e passo pela Independência. Um velho caminhão não deixa espaços para que eu siga, e vai despejando exatamente sobre mim uma quantidade criminosa de gás carbônico. Na primeira brecha faço a ultrapassagem, e ao longe vejo o sinal ainda verde no cruzamento com a Oswaldo Aranha. Aumento o ritmo. Vou ter um bom tempo para cruzar. O sinal fica amarelo, e eu passo. Com minha visão periférica percebo o outro carro ultrapassando o sinal vermelho e vindo sobre mim. Mas não há tempo para mais nada. Que girem a roleta!

Não, flashes da minha vida não se passaram pela minha mente, nem visualizei as portas do Inferno com o Belzebu torturando criancinhas. Mas, no impacto do choque, remeti claramente a um momento feliz de um passado próximo, simultaneamente tão remoto. De repente tudo some, e neste momento pensei estar morto. Porém aparentemente me equivoquei, afinal ainda estou aqui para contar a história. Isto, é claro, excluindo-se a probabilidade cartesiana de eu ter morrido apenas parcialmente, enquanto meu cérebro continuar intacto e controlado por uma entidade superior de caráter discutível. Mas, se aceitarmos tal possibilidade, entraríamos em um campo de metafísica e religiosidade muito avançada, o que tornaria este texto exageradamente tedioso.

Retomando o eixo, se o momento da colisão fosse gravado, certamente colocaria na lama os milionários efeitos sonoros e visuais holliwoodianos, pelo menos em termo de realismo. Haviam todos os elementos necessários para dar cena o impacto de ação e destruição, além de um toque bacana de violência. Um carro com a frente afundada rodando violentamente sobre si próprio. O outro utiliza o bico do primeiro para executar um magistral giro no ar, enquanto uma das ocupantes do banco traseiro, que por sinal não utilizava cinto de segurança, voa através do vidro lateral para um pouso um tanto forçado no corredor de ônibus. O giro do carro, infelizmente, não é concluído, e este aterriza, capotado, coincidentemente sobre a garota voadora anteriormente citada.

Apesar do cenário apocalíptico, e da ameaça de plágio ao jargão de Vídeos Incríveis, ninguém morreu ou ficou ferido no acidente. A descrição da Zero Hora é baseada em rumores e mentiras. Apenas temos, de um lado, um jovem protegido pela razão (e pelo seguro total de seu veículo). De outro, uma garota babaca e retardada que ultrapassou o sinal vermelho, destruindo o carro sem seguro do sogro. E, finalmente, no meio de campo, o depoimento do pseudo-fotógrafo charlatão Fotonaldo, funcionário de uma empresa de comunicação sabidamente tendenciosa e pouco preocupada com o compromisso da verdade, que deveria ser sua premissa básica.

Meu trauma certamente fará com que eu não mais cruze o sinal amarelo ou esqueça o cinto de segurança. E, pasmem-se, mas minha mãe estava certa desta vez. Preciso de um plano de saúde.

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