quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Nossas ruas são feitas de PEDRA (parte I)

Para aqueles que não leram na 3x4, vou postar a matéria completa, mas dividida em partes para evitar que alguém durma no meio



Em laboratórios artesanais, uma forma não salina da cocaína é isolada em uma solução aquosa. Numa panela, a substância é aquecida num tratamento de sal dissolvido em água com bicarbonato de sódio. A mistura se solidifica em pedaços grossos e secos de coloração amarelada, uma pedra que explode, cristalizando-se com um barulho onomatopéico: crack.


DAS ORIGENS NEFASTAS


Nos anos oitenta, o consumo de cocaína popularizou-se pelos Estados Unidos. O narcotráfico colombiano, responsável pela produção e distribuição da cocaína no mundo, atingiu níveis avançados de organização e notoriedade internacional, faturando cerca de 200 bilhões de dólares anuais. O preço da droga chegou a despencar 250%, porém continuava muito cara ao bolso dos jovens das periferias.

Enquanto isso, na Nicarágua, estourava a Revolução Sandinista, que pretendia acabar com o imperialismo ditatorial que os Estados Unidos exercia no país através da família Somoza. Membros do partido Fuerza Democrática, anti-sandinista e alinhado aos EUA, entram em contato com um tal coronel Bermudez, sabidamente pago pela CIA, que propõe traficar a cocaína da Colômbia direto para o interior dos EUA, com o objetivo de conseguir fundos para combater os revolucionários sandinistas. Entram em contato com o cartel de Cáli, o mais poderoso da Colômbia, e tentam comercializar a droga nas zonas mais pobres de Los Angeles. Porém o alto custo era um impasse para a venda da cocaína nos subúrbios, e o preço de mercado não pode ser rebaixado, afinal, entraria em conflito com o pó de outras quadrilhas.


Neste contexto, uma inovação tecnológica veio resolver os problemas dos contra-revolucionários nicaragüenses. Através dos cristais que restam da fabricação da cocaína, é possível fabricar uma droga inalável, muito mais barata e potente, adequada aos pobres e que será chamada de crack. Por cinco anos ,de 1982 a 1987, os contras, com cobertura de organismos oficiais locais e norte-americanos, despejam 100 quilos de cristais de coca semanais sobre Los Angeles. Os lucros são lavados em Miami e partem para a América Central, onde alimentarão a subversão contra o governo de Manágua. A pedra se espalhou com uma velocidade alucinante nos guetos negros e latinos, e isso para os Estados Unidos tornou-se uma solução, implicita e eficiente, para barrar o crescimento dos movimentos operário e popular no país.

A situação, porém, ficou fora de controle. Nova York chegou a ter 12 mil pontos de venda e a taxa de homicídios atingiu 2,2 mil por ano. Em Washington, capital do país, o então prefeito, Marion Barry, foi preso em 1990 por fumar crack . Desde os primeiros relatos sobre a nova droga, chamava a atenção dos pesquisadores a intensidade e a curta duração dos sintomas de euforia, preço muito inferior ao da cocaína refinada, as impurezas e o 'microtráfico' feito pelo usuário para a manutenção do próprio consumo. Com uma capacidade de vício acelerada e seu preço baixo, o crack rapidamente migrou dos subúrbios dos EUA para as periferias da América Latina, bairros habitados por minorias e acometidos por altos índices de desemprego, que com a pedra alcançaram também índices históricos de violência.

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