Despertei um dia, via que chovia mas sentia que não podia.... nada podia, nada seria, apenas sonho viria
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sábado, 24 de dezembro de 2011
A história do Papai Noel
Papai Noel só começou a beber Coca-Cola em 1931; antes, preferia suco de amoras
*publicado no jornal A FOLHA(Torres, 23/12/11)
Dia 25 de dezembro é dia de Natal, celebração do nascimento de Jesus Cristo, tempo de renovação e esperança. Ainda por cima é uma data próxima ao ano novo, recheada de expectativas, e as pessoas tornam-se contagiantemente mais afetuosas umas com as outras, multiplicam-se desejos de paz, saúde, felicidade e amor. E em meio a toda esta bela história, surge um velhinho gorducho e em roupas vermelhas fumando, tomando Coca-Cola e incitando o desejo de consumir no coração das pessoas.
A difusão do cristianismo e do Natal
O Natal é uma data em que comemoramos o nascimento de Jesus Cristo. Foi no século IV que o 25 de dezembro foi estabelecido como data oficial de comemoração. Começou com o imperador Constantino que acabou, entrando na história como primeiro imperador romano a professar o cristianismo, na seqüência de uma vitória militar decorrente da inspiração divina de Jesus Cristo. Segundo a tradição, na noite anterior à batalha, ele sonhou com uma cruz, e nela estava escrito em latim: In hoc signo vinces”— "Sob este símbolo vencerás".
De manhã, um pouco antes da batalha, Constantino teria mandado que pintassem uma cruz nos escudos dos soldados e, com a graça de Cristo, conseguiu uma vitória esmagadora sobre o inimigo. A partir deste fato, Constantino legalizou e apoiou fortemente a cristandade, mas também não tornou o ilegal o paganismo (religião politeísta vigente na época) ou fez do cristianismo a religião estatal única. O cristianismo tornaria-se religião oficial do império romano em 380 d.C., a partir de decreto do Imperador Teodósio I, popularizando-se então pela Europa e Ásia. A partir dai, também ficava oficialmente estabelecido o 25 de dezembro como data de nascimento de Jesus
Na Roma Antiga (bem como em diferentes locais no Hemisfério Norte) o 25 de dezembro era a data em que se comemorava também o início do inverno. Portanto, acredita-se que haja uma relação estrita deste fato com a oficialização da comemoração do Natal.
As antigas comemorações de Natal costumavam durar até 12 dias, pois este foi o tempo que levou para os três reis Magos chegarem até a cidade de Belém e entregarem os presentes (ouro, mirra e incenso) ao menino Jesus. Atualmente, as pessoas costumam montar as árvores e outras decorações natalinas no começo de dezembro e desmontá-las até 12 dias após o Natal.
Enfim, a verdade é que, passados milênios desde as primeiras comemorações pagãs primitivas, o nascimento de Jesus e a difusão do Cristianismo pelo Império Romano, hoje existe um personagem que é mais popular que mitos e lendas religiosos no Natal. Ele surgiu também a partir da religião católica, mas se propagou como um dos mitos mais adorados do mundo por meio da publicidade de um refrigerante
Trata-se dele mesmo, o bom velhinho: Papai Noel
São Nicolau: a inspiração
A lenda do Papai Noel pode ter se baseado a partir de contos diversos pelo mundo, sobre a figura histórica de São Nicolau. Uma história quase idêntica é atribuída, no folclore grego e bizantino, a Basílio de Cesareia (fato pelo qual gregos e cristão ortodoxos costumam celebrar a traça de presentes no dia 1º de janeiro, dia de São Basílio).
Mas pelo que foi popularmente difundido até os dias de hoje, o personagem foi inspirado em São Nicolau Taumaturgo, arcebispo de Mira (na Turquia), que viveu durante o século IV. Nicolau costumava ajudar, anonimamente, quem estivesse em dificuldades financeiras. Colocava o saco com moedas de ouro na chaminé das casas dos necessitados. Também era muito bondoso com as crianças carentes, e costumava distribuir presentes no final de ano para aquelas que se comportassem bem.
Foi declarado santo depois que muitos milagres lhe foram atribuídos. De São Nicolau, temos um grande número de relatos e histórias, mas é difícil distinguir as autênticas das abundantes lendas que germinaram sobre este santo muito popular. Sua transformação em símbolo natalino aconteceu na Alemanha, e daí correu o mundo inteiro: mitificou-se o Papai Noel, um velhinho corado de barba branca, trazendo nas costas um saco cheio de presentes.
Caricatura de Thomas Nast que popularizou o Papai Noel gordo, em vermelho e fumante
O trenó de renas e a chaminé
Uma das pessoas que ajudaram a dar força à lenda do Papai Noel como conhecemos hoje foi Clemente Clark Moore, um professor de literatura grega de Nova Iorque. Ele lançou o poema intitulado “Uma visita de São Nicolau”, em 1822, escrito para seus seis filhos. Nesse poema, Moore divulgava a versão de que São Nicolau viajava num trenó puxado por renas. Moore descrevia São Nicolau como “um elfo gordo e alegre”. Ele também ajudou a popularizar outras características do bom velhinho, como o fato (português brasileiro) dele entrar pela chaminé.
O caso da chaminé, inclusive, é um dos mais curiosos na lenda de Papai Noel. Alguns estudiosos defendem que isso se deve ao fato de que várias pessoas tinham o costume de limpar as chaminés no Ano Novo para permitir que a boa sorte entrasse na casa durante o resto do ano.
Mas, estudando o poema de Moore, várias tradições foram buscadas por diversas fontes, e a verdadeira explicação da chaminé teria vindo da Lapônia, na Finlândia (onde seria a casa do Papai Noel). Os antigos lapões viviam em pequenas tendas, semelhantes a iglus, que eram cobertas com pele de rena. A entrada para essa casa era um buraco no telhado, e daí veio a idéia do Papai Noel entrando pela chaminé.
Coca Cola e a popularização do Papai Noel
É amplamente divulgado pela internet e por outros meios que a Coca-Cola seria a responsável por criar o atual visual do Papai Noel (roupas vermelhas com detalhes em branco e cinto preto), mas é historicamente comprovado que o responsável por sua roupagem vermelha foi o cartunista alemão Thomas Nast, em 1886 na revista Harper’s Weeklys, em edição especial de Natal.
Papai Noel até então era representado com roupas de inverno, porém na cor verde (com detalhes prateados ou brancos). Em 1931, a Coca-Cola realizou uma grande campanha publicitária vestindo Papai Noel ao mesmo modo de Nast, com as cores vermelha e branca, o que foi bastante conveniente, já que estas são as cores de seu rótulo. Tal campanha, destinada a promover o consumo de Coca-Cola no inverno (período em que as vendas da bebida eram baixas, na época), fez um enorme sucesso e a nova imagem de Papai Noel espalhou-se rapidamente pelo mundo. Portanto, a Coca-Cola contribuiu para difundir e padronizar a imagem atual, mas não é responsável por tê-la criado.
A popular lenda do Bom Velhinho
Conforme a lenda, Papai Noel mora no Extremo Norte, numa terra de neve eterna. Na versão americana, ele mora em sua casa no Polo Norte, enquanto na versão britânica frequentemente se diz que ele reside nas montanhas de Korvatunturi na Lapônia, Finlândia. Papai Noel vive com sua esposa Mamãe Noel, incontáveis elfos mágicos e oito ou nove renas voadoras.
Outra lenda popular diz que ele faz uma lista de crianças ao redor do mundo, classificando-as de acordo com seu comportamento, e que entrega presentes, como brinquedos ou doces, a todos os garotos e garotas bem-comportados no mundo, e às vezes carvão às crianças mal-comportadas, na noite da véspera de Natal. Papai Noel consegue esse feito anual com o auxílio de elfos, que fazem os brinquedos na oficina, e das renas voadoras que puxam o trenó.
O bom velhinho fumava Lucky Strike, mas também apreciava os cigarros Pall Mall
A casa do Papai Noel e sua residência de verão no Brasil
Nos países do Norte da Europa, diz à tradição que o Papai Noel não vive propriamente no Pólo Norte, mas sim na Lapônia, mais propriamente na cidade de Rovaniemi. Nesta cidade,realmente existe o "escritório do Papai Noel", bem como o parque conhecido como "Santa Park", que se tornou uma atração turística do local. Criou-se inclusive um endereço oficial como a residência do Papai Noel, abaixo subscrito:
Santa Claus
FIN-96930 Arctic Circle
Rovaniemi - Finlândia
http://www.santaclausoffice.fi
Em função disso, a região de Penedo, distrito de Itatiaia, no Rio de Janeiro, que é uma colônia finlandesa, se auto-declarou como a "residência de verão" do Papai Noel. Há ainda, na cidade de Gramado-RS, a Aldeia do Papai Noel.
quinta-feira, 30 de junho de 2011
O Papa-Figo
O Papa-Figo é um mito popular que se espalhou por todo o Brasil, não se sabe ao certo quando. Seu nome é a contração de papa-fígado, sua principal característica. Lenda muito comum em todo meio rural nordestino, acredita-se que a intenção do conto era a de alertar as crianças para o contato com estranhos.
Em geral, o Papa-figo é descrito como um leproso idoso, muito sujo e feio, com o corpo coberto de chagas. Tez escura, boca podre e desdentada, grandes orelhas com os lóbulos crescidos e caídos, ele veste trapos mal-cheirosos e carrega um saco de estopa pendurado nas costas, onde carrega as crianças que captura.
Mas ele mesmo pouco aparece. Prefere mandar seus capangas em busca de suas vítimas. Os ajudantes por sua vez, usam de todos os artifícios para atrair as crianças, distribuindo presentes, doces, dinheiro, brinquedos, comida, drogas (se levarmos pro contexto atual). Eles agem em qualquer lugar público, portas de escolas, parques e ruelas desertas. As vítimas arrebatadas então são levadas ao Papa-Figo, que lhes retira o fígado e o come.
Em tempos antigos, acreditava-se que a lepra, ou Mau de Hansen, era uma doença causada pelo mau funcionamento do fígado, órgão que, a crendice popular dizia, era o produtor do sangue. A cura estaria no consumo do órgão sadio. Mas somente o fígado infantil seria puro e forte o suficiente para aliviar o sofrimento dos hansenianos. E sempre haveria alguém disposto a pagar qualquer preço por tão poderoso e raro elixir. O Papa-Figo era, portanto, em algumas versões, o próprio doente em busca de cura ou, outras vezes, o encarregado de conseguir a mercadoria para tal tipo de comércio. Comer o fígado sadio para curar o fígado doente e determinar a formação de um sangue puro era idéia obstinada dos leprosos.
sábado, 17 de julho de 2010
A laranja e as calamidades
Amanhecer sombrio no vale de Kratëas, na Eslováquia, onde esconde-se o pequeno vilarejo de Lotanek. Thörek, o marceneiro, sente o sopro do vento fluindo por detrás das montanhas geladas, e então um arrepio estranho corre por sua espinha. Um mau pressentimento passou por sua mente amargurada, sensação que o marceneiro só havia sentido uma vez na vida, pouco antes da morte de seu filho único, há três anos. Eis que surge um estrondo oculto por detrás da forte neblina, seguido pelo primeiro e único tremor de terra da história de Kratëas. O amargurado Thörek abriu a porta a de sua pequena cabana para verificar o que estava acontecendo, e ficou atônito ao descobrir que choviam laranjas. Pensou no quão bizarro era está situação e o quanto a vida parecia não fazer sentido. Mas foram pensamentos céleres, que logo se tornaram passado quando, literalmente, desabaram do céu toneladas e mais toneladas de laranjas, varrendo para sempre o pequeno vilarejo do mapa e pondo fim à existência de seus pacatos moradores. FIM
segunda-feira, 5 de abril de 2010
O gigante do gelo em chamas e Audumbla, a vaca primordial
LEGENDA: Enquanto Imer bebe na teta de Audumbla, Búri é formado do gelo lambido pela vaca
De acordo com a mitologia nórdica, no início havia somente o mundo das névoas, Niflheim, e o mundo de fogo, Musphelhein, e entre eles havia o Ginungagap, o grande vazio no qual nada vivia. Em Ginungagap, o fogo e a névoa se encontraram formando um colossal bloco de gelo. Como o fogo era vigoroso e eterno, o gelo foi derretendo até surgir a forma de um gigante primordial, Ymir, pai de todos os seres. Ymir dormiu durante muitas eras, e seu suor deu origem aos primeiros gigantes. Foi também do gelo que surgiu a vaca gigante Audumbla, Mãe Terra e símbolo da fecundidade, cujo leite jorrava intensamente por suas tetas para formar os 4 grandes rios que alimentavam Ymir. Enquanto Ymir bebia o leite e ganhava novas forças, a vaca lambeu o gelo e fez surgir, das cálidas gotas que salpicavam os rochedos cobertos de neve, outro ser vivo e de forma humana, Búri. Búri depois gerou Borr, e este se casou com Bestla, filha de Bölthorn, o gigante. Juntos, Borr e Bestla tiveram três filhos, o primogênito Odin, Æsir primordial e deus maior do panteão nórdico, e seus irmãos, Vili e Ve. Os filhos de Borr enfim destroçaram o corpo de Ymir e, a partir de sua carcaça destruída, criaram o mundo. De seus ossos e dentes surgiram as rochas e as montanhas e de seu cérebro disperso surgiram as nuvens.
De acordo com a mitologia nórdica, no início havia somente o mundo das névoas, Niflheim, e o mundo de fogo, Musphelhein, e entre eles havia o Ginungagap, o grande vazio no qual nada vivia. Em Ginungagap, o fogo e a névoa se encontraram formando um colossal bloco de gelo. Como o fogo era vigoroso e eterno, o gelo foi derretendo até surgir a forma de um gigante primordial, Ymir, pai de todos os seres. Ymir dormiu durante muitas eras, e seu suor deu origem aos primeiros gigantes. Foi também do gelo que surgiu a vaca gigante Audumbla, Mãe Terra e símbolo da fecundidade, cujo leite jorrava intensamente por suas tetas para formar os 4 grandes rios que alimentavam Ymir. Enquanto Ymir bebia o leite e ganhava novas forças, a vaca lambeu o gelo e fez surgir, das cálidas gotas que salpicavam os rochedos cobertos de neve, outro ser vivo e de forma humana, Búri. Búri depois gerou Borr, e este se casou com Bestla, filha de Bölthorn, o gigante. Juntos, Borr e Bestla tiveram três filhos, o primogênito Odin, Æsir primordial e deus maior do panteão nórdico, e seus irmãos, Vili e Ve. Os filhos de Borr enfim destroçaram o corpo de Ymir e, a partir de sua carcaça destruída, criaram o mundo. De seus ossos e dentes surgiram as rochas e as montanhas e de seu cérebro disperso surgiram as nuvens.
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
A mitologia Iorubá e o homem-lama-marrom
Olorum criou o mundo, todas as águas e terras e todos os filhos das águas e do seio das terras. Criou plantas e animais de todas as cores e tamanhos. Até que ordenou que Oxalá criasse o homem.
Oxalá criou o homem a partir do ferro e depois da madeira, mas ambos eram rígidos demais. Criou o homem de pedra, mas este era muito frio. Tentou a água, mas o ser não tomava forma definida. Tentou o fogo, mas a criatura se consumiu no próprio fogo. Fez um ser de ar que depois de pronto retornou ao que era, apenas ar. Tentou, ainda, o azeite e o vinho sem êxito.
Triste pelas suas tentativas infecundas, Oxalá sentou-se à beira do rio, de onde Nanã emergiu indagando-o sobre a sua preocupação. Oxalá fala sobre o seu insucesso. Nanã mergulha e retorna da profundeza do rio e lhe entrega lama. Mergulha novamente e lhe traz mais lama. Oxalá, então, cria o homem e percebe que ele é flexível, capaz de mover os olhos, os braços, as pernas e, então, sopra-lhe a vida.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
A extraordinária história de Ariri Pistola
Em vista que o Google não possuí referências concretas sobre o ilustre personagem, contabilizo um pequeno favor aos anais da história digitalizada. Um tanto longo, eu sei, mas vale a pena ler até o final.
Não se sabe ao certo quando Ariovaldo Jesus Ferreira nasceu, mas especula-se que tenha sido por volta de 1830 num pequeno casebre no inóspito sertão cearense, concebido como caçula de outros cinco irmão homens. O pai foi morto numa emboscada quando Ariovaldo ainda era criança, e o restante da família foi pouco a pouco se desintegrando pelas doenças da fome ou por balas efêmeras de destino certeiro. No decorrer deste caminho sem rumo dos nômades famintos, o caçula se viu sozinho no mundo quando a mãe exaurida pela anemia não acordou de um sono sem sonhos. A desnorteada criança foi acolhida por Virgílio, um velho e solitário fazendeiro, a muito tempo a espera da ceifeira maldita para encontrar o filho que nunca teve e a mulher, que morreu durante o parto. Ariovaldo tornou-se um bom vaqueiro, trabalhava com o artesanato do couro e logo aprendeu a manusear uma pistola. A criança virou adulto quando, num suspiro, Virgílio expirou sua passagem terrena para juntar-se a família perdida, deixando a fazenda e todos os bens ao menino que tornou seus últimos anos de vida um pouco menos ordinários.
Ariovaldo passou então a ocupar-se com abnegação das tarefas para manutenção da propriedade, decidido a manter viva a herança do velho Virgílio. Com o passar do tempo, e o aporte dos sortudos, fez multiplicar seu gado e expandiu as terras a ponto de logo se tornar um respeitável fazendeiro na miserável região. Contratou peões para cuidar dos seus limites e trabalhar a rês, vendendo o couro e a carne aos comerciantes de Quixadá. Cresceu com os mesmo perfil viril e rude do pai que não conheceu, sendo um homem sisudo cujo espírito permanecia fechado em si mesmo. Contudo, a maturidade precoce lhe trazia o vazio da solidão, e Ariovaldo passou a ficar incomodado com a idéia de sua natureza ermita lhe afastar do convívio com mundo . Foi quando, numa de suas raras idas até a cidade, conheceu Aparecida, filha de um vendedor errante que trazia estranhas bugigangas do Pernambuco. Mesmo que sua beleza fosse apenas discreta, a moça possuía uma docilidade natural e uns olhos negros e profundos que hipnotizaram por completo o fazendeiro. Trocaram alguns olhares e logo viraram cúmplices de uma paixão secreta e sem palavras. Ariovaldo passou a freqüentar a cidade todos os dias apenas para poder estar próximo de Aparecida, e vez que outra comprava com ela algum treco de parafusos e manivelas que não tinha idéia para que serviam, e pedia explicações só para poder ouvir a voz tímida mas decidida da jovem. No final das contas, o mercador voltou acompanhado apenas de suas bugigangas para Pernambuco, convencido que salvaria a filha do seu duro destino errante ao vê-la casada com o bom fazendeiro Ariovaldo.
Aparecida deu a luz a um menino na primavera do ano seguinte, que Ariovaldo batizou de Virgílio. A mulher e filho incutiram um sentimento novo, uma mistura de amor e compaixão, no coração endurecido daquele sertanejo sisudo que já havia presenciado a derrocada da própria estirpe. Formavam uma família feliz, que vivia satisfeita em apreciar os pequenos prazeres da simples vida sertaneja. Enquanto Aparecida ocupava suas horas com os cuidados ao pequeno rebento e na manutenção da casa em ordem, Ariovaldo se divertia acertando galhos secos e crânios de bode com o mosquetão do velho Virgílio, a ponto de tornar-se um hábil pistoleiro. Aplicava-se ainda ao trabalho com o gado, que milagrosamente multiplicou-se alheio a uma das maiores seca que o Ceará já havia presenciado, a qual deixou grande parte dos fazendeiros locais em profunda miséria. Certa feita o conhecido coronel Rubião, mais poderoso senhor das terras e dono da política em Quixadá, impaciente pelo fato de seu antes incontável gado estar minguando verticalmente frente as calamidades do clima, chegou a casa de Ariovaldo ralhando uma indecorosa proposta de negócio que apenas favoreceria ao próprio coronel, além da promessa de participação no poder público local. Ariovaldo recusou a proposta e Rubião, com a alma untada em ódio e maus pensamentos, jurou para si mesmo que não deixaria aquele frangote rabudo tomar o seu lugar como soberano na região.
Então, uma noite, enquanto dormia num vilarejo vizinho onde esporadicamente vendia gado, Ariovaldo acordou sobressaltado de um estranho pesadelo com um urubu que expelia fogo pela boca. Juntou suas coisas e partiu ligeiro no lombo do cavalo, até que, quando viu de longe as grandes chamas do Diabo consumindo lentamente sua propriedade, entendeu o mau presságio do sonho. A rês ou havia sido roubada ou se dispersado pelo sertão, e nenhum de seus funcionários agora mortos poderia contar a história. Ariovaldo não demorou para encontrar a mulher caída sem vida na varanda em frente a casa, com um tiro no peito e a genitália mutilada, ao lado do pequeno bebê cuja cabeça havia sido decaptada. O viúvo manteve seu aspecto exterior duro, não despejou uma lágrima e sequer deixou transparecer a dor da perda, mas internamente sentiu sua alma dilacerada. Era certo, havia sido então aliciado pelo Belzebu, e seu destino, desde sempre tão próximo ao da ceifeira maldita, estaria agora irrevogavelmente atrelado a necessidade por morte e a vingança.
A partir deste ocorrido, muito pouco se sabe sobre como os nebulosos anos se passaram para Ariovaldo, mas seu rastro de destruição e morte ficaram gravados na retina daqueles poucos que tiveram a má-sorte de sobrevier aos seus ataques. Começou com o brutal assassínio da família de Rubião, quando Ariovaldo conheceu na prática quão bom atirador havia se tornado, ao liquidar sozinho, munido de duas pistolas, todos os 14 jagunços que guardavam o patrimônio do coronel, para após matar com tiros certeiros os dois varões da família e estuprar a esposa, antes de cortar-lhe a garganta com a pecheira. Então, tomado pela raiva, Ariovaldo decepou os braços e pernas de Rubião, que teve de assistir entre uivos de dor ao dantesco teatro de sua penitência, culminando na queima da propriedade e a liberação do gado. Ariovaldo deixou de existir para o mundo como reles mortal ao estabelecer, na fazenda em chamas de Rubião, embebido pelo sangue das tripas de seu maior inimigo, um pacto eterno com o Diabo.
Nunca mais ele foi visto em Quixadá. Passou a ser conhecido como Ariri Pistola, e formou com outros seis homens de alma perdida um dos primeiros e mais temidos grupos de extermínio da história do cangaço. Seus requintes de crueldade só não tornaram-se mais notórios porque não deixava rastros, ninguém sobrevivia a empreitada. Queimava vilas inteiras, violentava as mulheres, decapitava as crianças e sua marca registrada era deixar alguns dos homens ansiando por uma morte célere, com os membros decepados e a genitália mutilada enfiada pela boca. O espólio dos saques era dividido pelo bando, enquanto Ariovaldo se preocupava apenas em dar continuidade a sua maldita sina da morte, acompanhado sempre pelo velho mosquetão do esquecido Virgílio. Reza a lenda que ele, no decorrer de sua passagem terrena, foi o responsável pelo assassinato de cinco mil infelizes por todo o Nordeste. Sobreviveu a dezenas de emboscadas, mas o mesmo destino não se sucedeu aos outros membros de seu grupo, que um a um foram capturados e tiveram a cabeça decapitada exposta como prêmio. Ariri Pistola, por sua vez, escapava como uma sombra errante sem deixar vestígios, ao passo que sua própria existência acabou sendo posta em dúvida, e ele passou a ser mais uma temida figura mitológica do imaginário popular do que um demônio real. Dizem que, já quase centenário, juntou-se incógnito ao grupo de cangaceiros de Lampião, onde sua alma trucidada pelo ódio pode manter um resquício de paz pelos tiros ainda certeiros da juventude. Então, certa vez desapareceu rasteiro para nunca mais ser visto por olhos humanos, apesar dos boatos de que continua até hoje morto em vida vagando pelas cidades que destruiu, atormentando as almas penadas.
segunda-feira, 13 de julho de 2009
Ninkasi, deusa da cerveja
Os Sumérios organizaram-se há cerca de 7000 anos atrás onde hoje é o Iraque, e são considerados a civilização mais antiga da humanidade. Dentre o seu legado estão inventos de suma importância como a roda, a escrita cuneiforme, a astronomia heliocêntrica, a domesticação de animais e, a mais relevante de todas, a cerveja...
Provavelmente os Sumérios descobriram o processo de fermentação por acaso. Ninguém sabe ao certo como isto ocorreu, mas poderia ser que uma parte do pão de cevada ficou molhada, simplesmente esquecida. Depois de algum tempo o pão começou a fermentar e resultou numa polpa com aroma inebriante. A primeira cerveja deve ter sido um acidente
Ninkasi, é a Deusa da Cerveja, que nasceu da água mais fresca cintilante, e foi criada para saciar o desejo e satisfazer o coração cansado. Um poema sumério, escrito em sua homenagem a mais de 4000 anos, contém a mais antiga receita conhecida de cerveja.
Louvor à Ninkasi
Nascida da água corrente
Delicadamente cuidada por Ninhursag
Ninkasi, fundando sua cidade pelo lago sagrado,
Ela rematou-a com grandes muralhas por você.
Ninkasi, você é a única que maneja
a massa com uma grande pá,
misturando em uma cova o bappir,
com tâmaras ou mel.
Você é a única que assa o bappir
no grande forno,
Coloca em ordem as pilhas
de sementes descascadas,
Ninkasi, você é a única que rega o malte
jogado pelo chão,
Os cães fidalgos mantém distância,
até mesmo os soberanos.
Você é a única que embebe
o malte em um cântaro
As ondas surgem, as ondas caem.
Ninkasi, Você é a única que estica a pasta assada,
em largas esteiras de palha,
A frialdade dominou.
Você é a única que segura com ambas as mãos
o magnífico e doce sumo,
Fermentando-o com mel e vinho
O barril filtrador,
que faz um som agradável,
Você ocupa apropriadamente o topo,
Ninkasi, você é a única que despeja a cerveja filtrada,
que é como os barulhos dos cursos
do Tigris e do Euphrates.
segunda-feira, 22 de junho de 2009
O poético nascimento de Afrodite
Bom, tudo começou quando Caos, o vazio existencial, que estava com um puta resfriado, deu um espirro viril e criou as bases de tudo que existe. Meio que de gaiata na festa, vinda ninguém sabe de onde, apareceu Gaia, a Terra, uma putinha ninfomaníaca e parideira descontrolada. De um orgasmo brutal de Gaia, que batia uma louca siririca pensando em Caos peladão, surgiram Pontos, o Mar, e Urano, o Céu. Este último nasceu com uma baita pinta de galã de cinema, e Gaia, que não era boba nem nada, começou a molestar sexualmente do filhinho. Acontece que Urano, apesar de gostar muito das brincadeiras sexuais com Gaia, não estava, digamos, preparado para ser pai. Sabe como é, divindade jovem, rebelde, queria curtir a vida antes de se prender a uma família. Então ele trancafiou os seus filhos (e irmãos) dentro do ventre de Gaia, que ficou com um barrigão incomensurável. E mulher grávida vira uma vaca, toda estriada, cheia de pelanca, com os peitos e a bunda caida, daí era natural que Urano não tivesse mais vontade de transar com sua querida mãe. Só que Gaia já estava de saco cheio da prepotência e falta de virilidade do marido, então instigou seus filhos trancafiados no bucho a se rebelarem contra Urano. Nisto, Cronos, o caçulinha, sorrateiramente saiu da perereca de Gaia e, com uma foice mágica, cortou os bagos de Urano. As bolas ensangüentadas caíram em Pontos, o mar, que ficou puto da cara com a sujeira e derreteu os testículos. Surgiu então uma espuma de esperma poderosa, e desta espuma nasceu Afrodite, toda melecada em porra, bem como ela gosta.
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Baba Yaga e a mitologia eslava
“Tenho certeza que a vi. Foi na Hungria, quando ainda era muito jovem, mas já tinha noção das coisas. Era inverno e eu cortava lenha para meu pai na floresta de Kadar, quando senti a presença de um vulto acima. A figura viajava aos rodopios pelo céu estrelado, montada em uma espécie de almofariz gigante. Com uma agilidade impressionante, deu um rasante e pousou. Ela parou muito próximo, não conseguiria me esconder a tempo. Baba Yaga me encarou. Era tão velha e sombria quanto a floresta, e tão alta e magra que podia ver-se a marcação de seus ossos na pele amarelada. O nariz tinha a forma de gancho e era ardente como o sangue, as narinas largas. Os olhos injetados feito carvão em brasa, e afiados espinhos saindo do crânio em vez de cabelos. Vestia um velho e longo vestido, e levava consigo ainda uma grande vassoura. Por alguns segundos ainda, ficamos os dois, criança e bruxa, a se observar. Então, com um único movimento da vassoura, criou uma densa nuvem de folhas secas e poeira, e desapareceu tão rápido quanto havia chegado”.
Baba Yaga é um ser mitológico do folclore do leste europeu. Vive numa casa móvel que tem como base enormes pés de galinha, cuja entrada é uma boca repleta de dentes afiados. Viaja pelos céus montada em um almofariz, e os rastros que deixa, apaga com uma vassoura. No panteão eslavo era tratada como Deusa da Morte, e tinha como lado masculino a criatura Koshchei, O Sem Morte. Ajuda os puros de coração e devora os impuros.
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