segunda-feira, 28 de junho de 2010

Os bravos e sofridos pigmeus


Estima-se que há entre 250.000 e 600.000 pigmeus vivendo nas florestas tropicais do Congo. Os mais famosos são os Mbuti, grupo onde os homens adultos crescem no máximo até 1,50 m de altura. Reza a lenda que os pigmeus primordiais eram um povo muito alto, que facilmente passava de 2,20 m na media de altura. Este povo teria sido atingido por uma maldição, evocada há quase 5000 anos atrás pelos ancestrais do povo Banto, que os obrigou a viver nas densas profundezas das florestas equatoriaias do Congo. Após viverem mais de 3000 anos sem poder ver a luz do sol, quando findada a maldição passaram a ter uma estatura muito baixa, e tiveram seu nome mudado para pigmeus (termo pejorativo na língua dos bantos). Já explicações mais científicas para a baixa estatura dos pigmeus incluem a falta de alimentos no ambiente equatorial, os baixos níveis de cálcio no solo, a necessidade de se mover através da densa floresta, a adaptação ao calor e à umidade extremos e, mais recentemente, uma associação com a rápida maturação reprodutiva em condições de mortalidade precoce.

Enquanto para o negro em geral a selva é uma madrasta perigosa, para os Pigmeu é uma mãe amorosa que os acolhe, nutre e protege. Dela eles recebem o material para construir suas cabanas, a madeira para seus arcos e flechas e o alimento cotidiano. Hoje, como no passado, a sorte dos Pigmeu está ligada à selva. Fora dela, sua cultura e sua vida se perdem. Mas ultimamente o seu meio ambiente está sendo cada vez mais modificado e deteriorado pela ação humana na extração de madeira, em plantações de café e minas de ouro e diamantes.

A estrutura social dos Pigmeu é muito precisa, e há uma nítida divisão sexual do trabalho. As mulheres recolhem na selva tubérculos, fungos, larvas e cogumelos. A pesca, que só acontece na estação seca, é reservada às mulheres e crianças. Já a caça é atividade exclusivamente masculina e se constitui num momento mágico na vida da comunidade pigméia. Os homens se preparam para sair à caça se abstendo das relações sexuais e evitando toda forma de "ofensa" à comunidade. Antes de partirem, há cerimônias de purificação e propiciação.

Por viverem na floresta tropical escura, quente e úmida, os Pigmeus encontram na coleta e na caça suas formas básicas de subsistência. Não acumulam alimentos nem bens naturais e vivem daquilo que a natureza lhes oferece. Mas nem sempre contam com o suficiente para atender às necessidades mínimas, e por isso eventualmente passam por longos períodos de fome. Como os demais povos caçadores da África, nunca se interessaram nem pela agricultura nem pela criação de gado. O único animal doméstico que costumam ter é o cachorro. A mulher é muito respeitada na sociedade pigméia, e a monogamia é uma tradição tão firme que chega a ser difícil aos estudiosos explicá-la.

Não é fácil falar da religião dos Pigmeus, porque eles não costumam expressar suas crenças com ritos externos e, além disso, a religião dos diferentes grupos não é uniforme. Geralmente, crêem num Ser Supremo criador, que se personifica no deus da selva, do céu e do além. Crêem ainda que as almas dos bons se convertem em estrelas do firmamento, enquanto as almas dos maus são condenadas a vagar eternamente pela selva e dão origem às doenças dos humanos. Os Pigmeus acreditam também na vida além da morte, mas não se estendem muito sobre o assunto, logo se esquecendo das tumbas de seus antepassados. Todas as noites, este povo costuma se reunir em danças coletivas e jogos mímicos, que são suas atividades preferidas nas horas de lazer.

O Pigmeu africano sofre preconceito e opressão de outros grupos étnicos, sendo o mais brutal o canibalismo dos opressores Bantos. Por gerações o povo foi caçado e literalmente consumido, considerado como uma sub-espécie inferior. Há uma crença entre alguns povos bantos que diz que, se você encontra um pigmeu sozinho na floresta, você deve estuprá-lo até a morte. Após sua morte, o pigmeu deve ser assado, e sua cabeça devorada pelo "caçador". Deve-se também cortar o resto do corpo do pigmeu e distribuí-lo entre os habitantes da aldeia, pois esta ação trará boa sorte e boa colheita para a tribo.

Além disso, na República do Congo, onde pigmeus representam de 5 a 10% da população, muitos pigmeus vivem como escravos de mestres Bantos. A nação está profundamente dividida entre estes dois grupos étnicos. Os pigmeus escravos pertencem desde o nascimento até à sua morte aos mestres Bantos, em um relacionamento que os Bantos chamam de "honrada tradição". Chegam a ser considerados parte do seu patrimônio familiar e, como tais, são transmitidos como herança de geração em geração.

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