Lá estava o cachorro Jacinto, voando então pelo grande
oceano Pacífico, no seu velho avião dirigido por morsas, viajando para Lugar
Nenhum na companhia de seus melhores amigos.
O avião ia explodir,
e ele sabia disso.
Iria ser como ele havia sonhado tantas e tantas vezes
Era o seu fim, mas ele sabia que estaria acompanhado de seus
melhores camaradas no derradeiro momento. Sentia-se triste porque todos iam
morrer, mas feliz por expirar seu tempo na Terra juntamente daqueles nobres companheiros a qual
tanto estimava.
Lá estavam aqueles
seres especiais, aquelas criaturas que o cachorro Jacinto guardaria com carinho
no âmago de sua memória, durante seus últimos instantes.
Ele sentia-se feliz da presença de Faristeu Bueno, o
espontâneo guepardo com o qual jogava xadrez e compartilhava dos bons chás da
terra. (Ele não sabia o que estava por vir).
O cachorro Jacinto ficava tranquilo pela presença de Leopoldo
Hartz de Melo, o honesto porco debulhador de abacates do Mar Yaga, que sempre
lhe encorajou nas reflexões crematórias quando tudo o mais parecia perdido.
(Ele não sabia o que estava por vir)
Lá também estava o
taciturno Verme Fenrir, aquela confusa presença nematelmintica, que sempre lhe
falava do apocalipse e de esperança num dialeto estranho.
Porque será que o Verme Fenrir estaria lá? (Saberia ele, o
que estava por vir?)
E com certeza absoluta, a presença mais importante era a do
grande amor de sua vida, Brenda Gertrudes de Barros Yacuan, doce e gelatinosa
donzela canina dos Vulcões Glorck, com seus grandes olhos de bergamota, a dama com
a qual o cachorro Jacinto havia dividido os melhores e mais tumultuados anos de
sua vida. (Ela não sabia o que estava
por vir)
Todos iam morrer, explodir. Desapareceriam com o cachorro
Jacinto em breve
...........................................................................................................
E quando surgiu o momento mágico, pouco antes do avião ser
atingido pelo míssil pós-soviético e explodir pelos ares, o cachorro Jacinto
exclamou:
- Dividam as batatas! Por favor, apenas dividam as batatas!
E os céus ficaram cheios de escuridão, o tempo parou
derradeiramente e o Verme Fenrir proferiu:
-DRUSJNA! PARINK DEVNA FIELSA!
Após a explosão, nada mais aconteceu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário