quarta-feira, 11 de julho de 2012

História de cachaça, pinga, branquinha, marvada, água que passarinho não bebe...



Ahhh, a cachaça... Velha conhecida minha, de boa parte dos brasileiros e de alguns outros pinguços espalhados por esse mundão. De região em região só muda o nome: pinga, caninha, uma polegada, branquinha, marvada, pra cirrose, água que passarinho não bebe, canha , água (para os com maior intimidade). Mas não importa o nome, qualquer vivente que começa a ter uma noção da vida sabe do que se trata, e muitos desses conhecem pela goela seus efeitos de euforia, liberdade de expressão, desequilíbrio dançante e certeza de que a Terra é redonda (porque pode ser que tudo comece a girar mesmo). Fato também é que a cachaça tornou-se um símbolo nacional, uma bebida vinculada às raízes do povo brasileiro, que se difundiu pelos quatro cantos de nosso grande país e que espalha, por todos os países que passa, o sentimento de que o brasileiro tem um combustível  potente para o sangue.


História da Branquinha

As origens do seu nome universal são desconhecidas. A possibilidade mais coerente é de que tenha vindo de “cachaza”, palavra da antiga língua ibérica, que representava o  vinho de borra, um vinho de qualidade inferior bebido em Portugal e Espanha. Segundo a Emater, a cachaça foi introduzida pelos escravos dos engenhos de açúcar em meados do século XVI. Era considerada uma bebida de baixo status na sociedade, pois era consumida apenas por escravos, mestiços ou brancos pobres, enquanto a elite brasileira da época preferia vinhos ou a bagaceira (aguardente de bagaço de uva), trazidos de Portugal.
Ainda assim, como a maioria no Brasil Colônia era formada por escravos, mestiços e brancos pobres, os engenhos de cachaça foram se popularizando por todos os lados, e logo a branquinha tornou-se a bebida alcoólica mais consumida do Brasil Colônia.  Mas a Corte Portuguesa, que acreditava que a felicidade do povo brasileiro só poderia existir mediante uma taxação adequada (pensamento não muito diferente que o adotado pelo poder público nacional de hoje), proibiu a produção, comercialização e consumo da cachaça, já que ela começava a ganhar espaço significativo junto à classe média da época. Essa popularização levava à diminuição do consumo da bagaceira, importada de Portugal, e conseqüentemente o rei arrancava menos impostos de seu rico parque de diversões tropical.

A cachaça contra a opressão

Mas na prática nunca se conseguiu acabar com o consumo da bebida, pois nenhum rei metido a besta iria tirar, dos sofridos pobres e escravos da época, o direito àquele dedinho de canha, pra aquecer  a alma sem maltratar o bolso. Daí, em meados do século XVIII, a Corte Portuguesa decidiu taxar rigorosamente a venda da cachaça. Também não tiveram sucesso, pois a sonegação era muito elevada. O povo defendia sua birita sagrada, e a aguardente tornou-se um símbolo de resistência contra a dominação portuguesa.
Muitos anos depois, os ricos tentaram de novo manchar o bom nome da cachaça. Quando, entre o final do século XIX e início do XX , o produto nacional começou a ganhar força entre todas as classes sociais, alguns setores da elite e da classe média iniciaram um movimento de preconceito contra a cachaça, considerada uma bebida vinculada com a pobreza. Os ricos tentavam se parecer mais com os europeus finos e elegantes, bebendo vinhos e uísques, e deviam sentir inveja ao ver os pobres ganhando espaço no Brasil. Essa discriminação aristocrática foi derrubada com a Semana da Arte Moderna de 1922, quando a cachaça voltou a ser considerada um símbolo da cultura nacional, agora contra a adoção de modismos europeus por essas paragens. Hoje em dia nem tem conversa: a cachaça é considerada a mais brasileira das bebidas, apreciada em qualquer bom boteco ou até em finos restaurantes de Paris.






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