Despertei um dia, via que chovia mas sentia que não podia.... nada podia, nada seria, apenas sonho viria
segunda-feira, 6 de julho de 2009
Diego Pintado e o buraco para o Inferno
Um outro texto das antigas, a pedidos...
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*Baseado (e distorcido) em extratos da memória de Diego Pintado.
Eu tinha 4 anos. Estava crescendo, ultrapassava com folga a barreira dos 70 centímetros. E ao mesmo tempo em que eu crescia em estatura, cresciam minhas responsabilidades. Eu já era praticamente um homem feito. Fazia alguns anos já andava, e recentemente havia conquistado mais um passo para minha independência, pois já cagava sem o auxílio de mamãe (exceto em diarréias, quando a situação ficava mais confusa). Sentia que precisava criar asas, lutar por objetivos mais grandiosos. Comecei assim a freqüentar a creche, viver uma rotina atarefada e criar responsabilidades.
A creche era um lugar fantástico, onde se reuniam as mentes mais brilhantes do planeta. Não sei explicar porque ou como, mas todas essas pessoas, dotadas de tão excepcionais capacidades cerebrais, eram analfabetas, manhosas e comiam o tatu fresco, recém retirado das narinas. Bom, mas foi neste lugar mágico, berço de tantos gênios, que eu incrementei minha formação intelectual e comecei a planejar minha ida ao inferno.
O Inferno, segundo mitos, é um lugar cruel, onde reina a dor, a tristeza e a maldade, sob o ríspido comando de Lúcifer, o Diabo. É para lá que vão as pessoas muito más, além de todas as outras pessoas que não acreditam em Deus (sejam estas boas ou más). Boa parte disto é verdade, porém o que apenas alguns poucos privilegiados sabem (e que eu descobri por meio de um informante russo infiltrado no parquinho), é que o inferno também possui um local confidencial, ultra-secreto, guardado por Cérbero, o cão de três cabeças. Trata-se de uma pracinha muito bacana, cheia de brinquedos divertidos e onde chove chocolate incessantemente. Neste lugar, também existem peixes quadrúpede cantantes e unicórnios com chifres espiralados e olhos pontudos. Não qu estes animais mitológicos acrescentem alguma diversão, mas eles sçao legais também.
Tentado pelo chocolate, e com a ajuda de dois capazes colegas engenheiros, iniciei minha empreitada rumo ao inferno. O plano era cavar um profundo buraco no pátio, considerado após minuciosa avaliação mais apropriado para escavações do que a pia do banheiro. Para isso contávamos com as mais avançadas ferramentas, tais como pás de plástico e baldes de praia. Assim, iniciamos os trabalhos. Logo de cara, deparamo-nos com um complicado obstáculo: as Tias, rígidas fiscais da terra. Elas, dentro da creche, possuíam status de deusas, usando cada criança como fantoche, impondo o que era permitido e o que era proibido, quando era a hora de comer, de dormir, de pintar, de cantar, etc. As Tias são provenientes Psámata, pequena lua de Netuno, e por isso possuem fortes laços com a tirania, característica marcante dos psamatianos. Elas chegam ao planeta Terra cuspidas em um violento catarro de Blirk, pai dos psamatianos, e tem por objetivo escravizar todas as crianças em idades pré-escolares.
Quando alguém descumpria uma ordem das Tias, era severamente punido, e podia, em casos extremos, ficar sem a soneca da tarde. Porém éramos jovens sedentos por mudanças, queríamos liberdade, paz, amor e chocolate, o que só poderíamos encontrar em amplitude no paraíso do Inferno. Assim, nos raros momentos em que o olhar desconfiado e impiedoso das tias se desviava, continuávamos cavando.
Por incontáveis dias, cavamos, cavamos, cavamos e cavamos. Estávamos cada vez mais próximos do Inferno, podíamos sentir o calor que brotava do chão. Finalmente alcançamos as profundezas do Reino do Mal, e fortes rajadas de enxofre foram expelidas do chão, que tremia e começava a criar feições de pântano. Os demônios do Capeta estavam libertos, eram fétidos e tinham aspectos pegajosos. Agora faltava muito pouco, porém, quando nossos sonhos estavam prestes a se concretizar, as Tias brecaram nossa empreitada. Maiores e mais fortes, elas nos pegaram no colo, e alegaram em uma história absurda que as rajadas de enxofre vinham na verdade de um cano de esgoto, que os diabólicos demônios eram merda humana. Nesse dia, ficamos sem soneca.
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