quinta-feira, 25 de junho de 2009

Espinhas


Concluí o trimestre, mas minhas espinhas tinham piorado ainda mais. Elas eram do tamanho de nozes e cobriam minha face.
Eu sentia muita vergonha. Algumas vezes, em casa, eu parava em frente ao espelho do banheiro e estourava uma das espinhas. Pus amarelo espirrava no espelho. E então saía um pequeno caroço branco. De um ponto de vista escatológico, era fascinante que toda aquela porcaria pudesse caber ali dentro. Mas eu sabia como era difícil para as pessoas terem que me olhar. (...)

(...) - Acne vulgaris. O pior caso que já vi em todos os meus anos de prática! - indicou um dos médicos.
- Fantástico!
- Incrível! -Olhem só o rosto!
- O pescoço!
- Acabei de examinar uma jovem com acne vulgaris. Suas costas estavam cobertas. Ela chorava. Sabem o que me disse: "Como vou conseguir arranjar um homem? Minhas costas ficarão marcadas para sempre. Quero me matar!". E agora veja só esse camarada! Se ela pudesse vê-lo, saberia que realmente não tem nada do que reclamar!
Seu puto imbecil, pensei, não percebe que posso ouvir o que você está dizendo? Como será que um homem chega a médico? Será que eles aceitam qualquer um?
- Ele está dormindo?
- Por quê?
- Parece bastante tranqüilo.
- Não, não acho que ele esteja dormindo. Você está dormindo, meu garoto?
- Sim. Estou dormindo seu babaca.

*extraido do livro Misto Quente, de Charles Bukowski

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