terça-feira, 23 de agosto de 2011

Escrevendo


Hoje acordei no meio da noite de novo, pensativo demais para dormir. Quer dizer, não cheguei a dormir nem nada, só fiquei com os olhos fechados e tal, pensando na vida. É foda isso, dai tive que me levantar para fumar um cigarro. Sai da cama, abri a porta da sala e ouvi um suspiro da minha cadela, a Hanna. Ela sempre dorme bem dondoca em cima de um dos sofás, enrolada em um cobertor. Sempre me sinto meio mal quando acordo na madrugada e interrompo o sono dela.
Fico imaginando o que deve ser um sonho da Hanna, correndo num campo gigante atrás de um gato qualquer, ou se esbaldando com os restos de um xis que ela achou numa lata de lixo. Sei lá. De qualquer modo ela devia estar relaxada pra caralho, porque geralmente a Hanna se levanta e faz toda uma festinha quando eu acordo no meio da noite, abanando o rabo e pedindo um xamego, mas hoje ela ficou lá, deitada mesmo. Na boa que as vezes sinto a Hanna meio deprimida, e penso que o que tá faltando para ela é uma boa trepada. Por que ela foi castrada e tudo, mas mesmo assim deve sentir fala de sexo. Enfim, como meus cigarros tinham acabado, peguei o maço e o isqueiro do meu pai e abri a porta dos fundos que dava para a rua.
A noite estava bem agradável até, mas não dava para ver nada no céu por causa de uma baita neblina. Acendi o cigarro e fiquei curtido a quietude da madrugada, sem viva alma passando por perto, a única coisa que se ouvia era um grilo perdido. Gosto quando sou a única pessoa na rua, por alguma razão me sinto especial, como se só eu tivesse aproveitando aquele momento de interação com o resto das coisas, enquanto todos os outros estavam perdendo tempo dormindo ou enfurnados entre quatro paredes fazendo qualquer coisa. Na real algumas dessas pessoas podiam estar se fodendo, literalmente, e esses eu aprovo, porque talvez estejam apreciando mais o seu tempo que eu. Mesmo assim, o meu momento na rua fumando parecia estar com boas vibrações, simplesmente me sentia bem.
Sei lá, ultimamente nem sempre tenho gostado muito de estar com pessoas, não consigo entender por que elas são tão felizes com tudo enquanto o mundo tá cada vez mais sem sentido e cheio de cretinice. Mas não é sempre também, quer dizer, a gente precisa de pessoas a nossa volta, conversar sobre o que quer que seja, compartilhar e todo esse papo. E o mundo quase sempre é legal e tal, só que as vezes me dá nos nervos . Mas fico imaginando que, se acontecece alguma loucura, uma sequência de catástrofes naturais se espalhasse pelo mundo e 90% das pessoas morressem nessa história, não ia ser um negócio tão ruim. Se eu sobrevivesse, é claro, para ver como tudo ia ser diferente. Certo que os valores iam ser outros, ninguém ia ficar tão maluco correndo atrás de dinheiro, ia ser um mundo mais solidário para se viver, pode ter certeza. Mas isso é só um devaneio mesmo, por enquanto.
Quando vi apareceu o Pincel, um dos cachorros de rua que dormem perto da minha casa, caminhando em minha direção. Ele se aproximou e ficou lá, abanando o rabo e olhando pra mim todo feliz. Dai fiz um carinho nele, porque achei que o bicho merecia, tava ali no meu lado fazendo companhia sem pedir nada, e ficava todo alegre só de eu dar uma atenção para ele. Nisso o cigarro já tinha acabado e acendi outro. Odeio esses cigarros industrializados do Brasil, primeiro poque parece que dá para sentir o gosto da caralhada de produtos quimicos venenosos que tem dentro dele, e segundo porque são ridiculamente curtos. Quando eu tava na Nova Zelândia fumava aqueles cigarros de enrolar, um fumo de qualidade, e que o cara botava tanto tabaco dentro quanto quisesse. Dava para enrolar uma bomba e ficar uns 20 minutos fumando só um, sem mentira. Fora toda a preparação para enrolar o cigarro, isso tem um certo charme na minha opinião, é um esforço pelas tragadas.
Não sei porquê, mas isso me lembrou de sexo. Talvez porque realmente seja tão bom fumar depois de uma boa trepada, sei lá. O caso é que comecei a ficar com tesão e pensar em uma guria que eu tinha visto num filme grego, Kinodontas, que tinha uma família completamente demente. Resumindo o troço, na história o pai tinha alguma paranóia e nunca deixava os filhos nem a mulher saírem de casa, nunca mesmo. Depois criava um monte de histórias completamente nonsense, dizendo que o mundo fora da casa era sinônimo de morte e criava regras pra tudo, como um ditador e tal. O resto da família era louco de prender em poste, do tipo masoquistas cerebrais mesmo, e por isso acreditavam nas baboseiras que ele dizia.
Mas a cena que me veio a cabeça foi uma em que o pai colocou o filho e a filha para transarem, porque o guri era homem e tal e precisava de sexo. Muita gente pode pensar que isso é um negócio bem grotesco, dois irmãos se comendo, mas como eu não tenho irmã e minha mente não tem muito pudor, a cena me deixou bem tesudo na real. Principalmente porque era uma cena de sexo verdadeira, os atores tavam se fodendo literalmente no filme, caralho na xana e tudo mais. E isso que não era nenhum pornô, só um filme bem alternativo, por isso fiquei tão impressionado com a coisa toda, ainda mais porque a guria que fazia o papel da irmã era bem gostosinha. Mas dai quando percebi minha situação já fiquei deprimido para burro, porque tava sozinho fumando a porra de um cigarro na madrugada.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Javalis da Ramelônia


Conheci a Ramelônia, lugar onde pude uma ter contato com uma interessantes comunidades de mamíferos atômicos. Não mais que uns poucos javalis dóceis, com seus dedos em riste apontando para o Céu , chafurdando em seu estrume inglório. Viviam em choupanas de palha, em ambiente tão fétido quanto eles próprios. Desdenhavam a forma de vida de seus proeminentes vizinhos, os Castelugos, nobres esquilos de ideais ternos e ponderados, que chupavam as tetas da mãe terra, suavemente mordiscando os mamilos. Os estranhos suínos riam da vida de despreocupação e tranqüilidade dos serelepes esquilos, que morriam velhos e em paz espiritual. Estes javalis da Ramelônia acreditavam que o caos é o caminho para a morte, e que a morte é o melhor caminho para virar bosta. Por isso lutavam para apressar a morte,enfiando seus narizes e bocas o mais profundamente possível em sua merda, buscando o tesão na essência de suas fezes. Mas não matavam uns aos outros, eram apenas solidários na busca por caminhos que conduzissem ao fim da vida. Reproduziam-se porque acreditavam que novas levas de ramelônios haviam de surgir, para que lhes fosse ensinado o valor da bosta, e o quanto a sua própria existência era suja. Eram seguidores de certa teoria proferida por seu grande pensador, um tal Sarta Purga Purga, há mais de 20 gerações suínas atrás. Dizia Purga Purga que "mais vale uma vida de merda que uma reflexão dos confrontos das conferências semióticas do desconstrutivismo demagogo". E jamais tão desafiantes palavras voltaram a ser pronunciadas por qualquer outro ramelônio. O sentido das palavras era desconhecido, trazia o medo,e por isso a expressão era respeitada em caráter absoluto pelos sôfregos animais. E quando a morte chegava, breve para os de sorte, os suínos devoravam o defunto para ingerir suas impurezas, acelerando o caminho até a bosta, e levando ao estágio seguinte.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Dos desamores


Não, em palavras pouco se diz
Temo as loucas paixões
Que não se fazem entender
Quero escapar das ilusões
Dos falsos amores perdidos
Do tempo, mentiras e sonhos,
Somente vivos em memórias
Moribundas

Busco então desamores
De suaves imperfeições,
De olhares indecisos
E esperanças vãs
Que não busquem o lirismo dos poemas
Mas a quietude do silêncio
Compartilhando eternamente,
Sem certezas,
O que a alma não percebe
Mas traduz em beleza

sábado, 6 de agosto de 2011

Amy Winehouse e a maldição dos 27


*publicado no jornal A FOLHA



No dia 23 de julho, o mundo deu adeus a cantora Amy Winehouse. A inglesa morre para se tornar uma mártir, ícone de uma juventude rebelde e confusa. Uma artista ousada, polêmica, com sua voz indiscutivelmente marcante, uma diva do jazz branca. Mas para os fãs do rock, uma constatação que volta a roda é irresistível de ser debatida: mais um gênio da música pop que se vai aos 27 anos de idade, bem como Jimi Hendrix, Janis Joplin, Brian Jones, Jim Morrison e Kurt Cobain. A mídia já coloca Amy Winehouse neste rol de notáveis. Mas seria realmente justo alinhar Amy com tão marcantes nomes? Bem, vou tentar, humildimente, expressar um pouco sobre o que penso (e o que a história conta) sobre estes ícones que marcaram gerações pela genialidade, abusos e polêmicas.

Jimi Hendrix



Quatro deles (Hendrix, Joplin, Morrison e Jones) marcaram o rock dos anos 60, fase da verdadeira revolução musical, da genialidade criativa que abriu as portas para quase tudo que virou têndencia para música pop em todas as gerações posteriores (na minha opinião, pelo menos). Jimi Hendrix praticamente dispensa comentários. Frequentimente considerado o maior guitarrista de todos os tempos, personificava seu instrumento de uma maneira nunca antes vista, quase mágica. Amplificadores distorcidos, abuso nos efeitos e o pedal wah-wah, que Hendrix tratou de popularizar, faziam com que sua guitarra psicodélica parecesse cantar em conjunto com sua voz espacial. Muito das raizes da música eletrônica se viram quase que premonidas em Jimi. O ícone da sociedade hippie, se vestia como que preparado para uma multicolorida guerra de sons, desafiando um sistema conformista com a qual não concordava. Ele dizia que "o inefável prazer de viver não se experimenta, enquanto não começamos a olhar nossa vida como principal dos trabalhos que devemos empreender". Hendrix exaltava a loucura, vivia espontaneamente, não ligava para os excessos, inclusive no consumo de drogas. A despeito disso, era um perfeccionista notório, buscava tirar o máximo de si mesmo em cada uma das suas inúmeras gravações e apresentações.

Grande estrela do festival de Woodstook em 69, protagonizou neste espetáculo aquele que talvez seja o grande momento da música pop contemporânea. Sua guitarra como uma metralhadora, a execução quase totalmente improvisada (e regada por altas doses de LSD) é descrita por muitos como a declaração da inquietude de uma geração sedenta por mudanças na sociedade, e por outros como uma gozação antiamericana, estranhamente simbólica da beleza, espontaneidade e tragédia que estavam embutidas na vida de Hendrix. Enfim, realmente não me sinto confortável tentando explicar Hendrix em tão poucas palavras, não é justo. Ele foi encontrado morto no apartamento de uma namorada, asfixiado pelo próprio vômito após uma suposta overdose de calmantes.


Brian Jones




Muitas pessoas cultuam os Rolling Stones como uma das grandes bandas de todos os tempos, um marco da rebeldia e vitalidade musical. Difusores dos ideais de "foda-se o que o mundo diz, eu vou ser do meu jeito", viraram símbolo do popular jargão "sexo, drogas e rock'n roll". Enfim, os Rolling Stones são dos dinossauros mais arrepiantes do rock, e ainda que seja inegável o protagonismo de Mick Jaeger e Keith Smith nessa história, nada disso teria acontecido se não fosse Brian Jones. Foi Jones que começou com tudo em 62, ao chamar Keith e Jaeger para formarem uma banda, e foi dele a idéia do nome, Rolling Stones, baseado em uma canção do gênio do blues Muddy Waters. Embora não tivesse o brilhantismo para compos canções como seus parceiros de banda, Brian era conhecido pela sua versatilidade musical, tocando vários instrumentos diferentes, ainda que se tenha notabilizado como guitarrista. Sua extravagância musical fez com que os Stones se diferenciassem, e ajudou a formar o estilo musical que vigorou com a banda, incorporando no rock desde a gaita de boca até a cítara indiana, xilofone, harpa, acordeon e banjo. Mas Brian Jones pouco a pouco foi perdendo espaço dentro dos Rolling Stones devido aos seus excessos com as drogas, até ser definitivamente afastado em 1969. Menos de um mês depois, Brian foi encontrado afogado na piscina de sua casa, em circunstâncias que até hoje não ficaram esclarecidas.

Janis Joplin




Chamada de rainha do rock'n roll, dona de vocais tão roucos e estridentes que expressavam aos berros a paixão, o não-conformismo e o sofrimento de uma mulher atormentada pelo tradicionalismo de uma sociedade careta. Janis Joplin proclamava em suas canções o amor por uma vida fulminante, estabelecia suas próprias regras, e tornou-se simbolo da liberdade feminina que vinha sendo conquistada nos anos 60."É melhor viver dez anos de uma vida efervescente do que morrer aos setenta e ter passado a vida assistindo TV", já dizia Janis. E se hoje Amy Winehouse é cultuada, deve muito disso ao mito que Janis Joplin foi. Sua música foi movida pela mistura de vários generos, incorporando corajosamente o soul, o blues e o folk ao movimento do rock psicodélico. Cantava a dor, as perdas e a sensualidade como só uma mulher poderia fazer. Sua vida sempre foi marcada pelos abusos de álcool e drogas, o que retardaria o seu sucesso por alguns anos.

Janis se incorporou a famosa comunidade hippie de Haight-Ashbury, na Califórnia, e alcançou o sucesso em definitivo em 1968, com o álbum "Cheap Trills", que contava com uma de suas canções de maior sucesso, "Piece of My Heart". Mas Janis Joplin nunca se sentia satisfeita, passava de banda em banda em busca de liberdade musical e uma sintonia perfeita. A cantora fez exibições marcantes no badalado Festival pop de Monterrey e em Woodstook. Janis também esteve no Brasil em 1970, na tentativa de se livrar do vício da heroína. Durante a sua estada por aqui, fez topless em Copacabana, bebeu muito, cantou em um bordel, foi expulsa do Hotel Copacabana Palace por nadar nua na piscina e quase foi presa. Foi encontrou morta em um quarto de hotel de Los Angeles, vítima de overdose de heroína combinada com efeitos do álcool, pouco antes de finalizar seu álbum "Pearl".

Jim Morrison



Jim Morrison foi um enigma indecifrável, e tornou-se um mito comportamental que supera gerações. Lider da emblemática banda de rock psicodélico The Doors, ele cantava o misticismo, a estranheza em relação ao mundo e a espera pela morte, ao mesmo tempo que se incendiava no palco por uma paixão alucinada pela vida. Morrison era um fascinado pelas sensações e energias do mundo, um rebelde-intelectual-curioso que buscava expandir ao máximo as diferentes possibilidades de percepções sobre a vida. Formado em cinema, devorador de livros e poeta, sua voz grave de barítono e genialidade com as palavras o levaram a formar a banda em 1965, com seu colega (e monstro dos teclados) Ray Manzarek. Não demorou muito e o the Doors foi alçado ao sucesso, com aquele que até hoje é seu maior hit, "Light my Fire".

A banda ganhou reputação por suas performances ao vivo polémicas. Com a sua presença em palco e as calças justas, Morrison tornou-se um sex symbol, um poeta do sexo, embora depressa tenha se cansado desta condição de estrela. Com seu jeito despreocupado e poderoso de cantar, fazia de sua música um louco carnaval, que entretanto foi sendo marcada por sua crescente instabilidade. Morrison mostava o pênis durante shows, enfrentava bêbado e entorpecido a polícia no palco. Ele era um beberrão dos bons, virava garrafas de uísque como se fosse água, além de ter se envolvido com todo tipo de droga, principalmente o LSD. O ácido (bem como os chás alucinóginos), ele dizia, lhe abria diferente portas da percepção, realidades paralelas, lhe aproximava das diferentes sensações que pareciam dar a Morrison um sentido especial de existência. Mas Jim se sentia próximo da morte, como se tivesse esperando o seu momento de partir, profetizando poeticamente esses sentimento em canções como "The End". Morreu em Paris, dentro de uma banheira, supostamente por overdose de heroina, embora as circunstâncias de seu último suspiro sejam desconhecidas. Rumores indicam, inclusive, que Morrison teria forjado sua morte, para fugir dos holofortes e finalmente viver sua vida em paz, escrevendo sua poesia anônimo.

Kurt Cobain



Muito depois dos mágicos anos 60, com seus ideais de revolução, paz e amor e rebeldia de uma geração que ansiava por mudanças sociais e por uma existência mais livre, vieram os anos 90. E a sonhada liberdade veio, mas sufocada pelo crescimento de novos conceitos como globalização, capitalismo selvagem, divórcio, publicidade ostensiva, depressão. O mundo foi sendo conquistado pela televisão, a sociedade virava uma geleia muito complexa e polimorfa, cada vez mais burocratizada e estressada para ser entendida. A informação vinha em turbilhões muito grandes para ser digerida pela mente de uma geração de jovens que não encontravam seus rumos na vida, individualizados e amargurados pela própria confusão de suas mentes. Neste contexto, surge um fenômeno que cantava a desilusão com relação a essa novo panorama, baseado em valores tão distorcidos. Despontava Kurt Cobain, lider da banda Nirvana e precussor do movimento grunge nos Estados Unidos. Ele foi um dos principais ícones da quebra de fronteira entre o comercial e o alternativo na música, trazendo a popularidade do underground, mostrando de forma lírica o lado amargurado de uma geração carente de ídolos.

O Nirvana alcançou a fama de vez com seu segundo e antológico álbum, "Nevermind", que contava também com os hits de maior sucesso da banda, "Smell Like Teen Spirits" e "Come As You Are". Além do ritmo considerado barulhento e desleixado do grunge, uma fusão do punk rock com o indie e hardcore, a música de Cobain era minada de angústia e sarcasmo, reforçando assuntos como a alienação social, apatia, confinamento e desencantamento geral com o estado da sociedade. E a nova juventude transviada dos anos 90 se identificava com suas marcas de ironia, sarcasmo, revolta, desespero, sentimento de inferioridade e ao uso de drogas. Kurt abusava no consumo de heroína, e chegava a dizer que apenas o consumo da droga anulava as constantes dores de estômago que lhe afligiam. Ele também se sentia frequentemente perseguido pela mídia, que estaria mais interessado em falar de sua vida privada do que analisar as visões político-sociais que sua banda tocava. Cobain era uma voz de peso na luta contra a homofobia, o sexismo e o racismo. Mas o líder do Nirvana sentia o peso da fama, e dizia publicamente que não sabia como lidar com essa situação. No final de sua vida, sentia-se também impotente criativamente, deprimido e até assustado frente as pressões advindas de seu extrondoso sucesso. Sua agonia mental e paranóia decorrente do abuso de heroína finalmente culminaram em sua desistência pela vida. Kurt Cobain então se suicidou, em sua casa, com um tiro de espingarda na cabeça.


Amy Winehouse e uma conclusão para isso tudo...

Particularmente não gosto de comparações, acho que cada pessoa no mundo tem o seu papel que é único, uma essência própria e inimitável. Ainda assim, após a apresentação destes grandes nomes do rock, mortos na juventude de seus 27 anos, vale fazer uma análise, ao menos para tentar compreender todo o barulho causado pela morte de Amy Winehouse. Quais as razões que tornariam a cantora num ícone depois de morta?

Se os parâmetros forem número de discos, habilidade musical, criatividade ou quantidade de fãs, não encontramos nada de tão diferenciado em Amy Winehouse. A cantora lançou apenas dois álbuns, "Frank" e."Back to Black". Jimi Hendrix, por exemplo, a despeito de sua agitada agenda de shows, perfeccionismo e genialidade com a guitarra, produzia ainda música frenéticamente, e deixou mais de 300 gravações inéditas depois de morto. Tecnicamente, Amy era uma boa cantora, alcançava timbres realmente lindos, mas há outras divas com vozes mais potentes, devastadoras. A própria Janis Joplin era um monstro inquestionavel nesse quesito. Da mesma forma, Amy não era uma instrumentista qualificada, como Brian Jones, ou uma poeta enigmática e densa como Jim Morrison. Ainda dá para citar vários popstars muito mais populares. E, vale frisar, ter uma vida marcada pelo abusos astronômicos de drogas pesadas não é um ponto a ser vangloriado, representando no máximo a aceleração de uma sentença de morte (ainda que algumas drogas, se consumidas da maneira correta, possam realmente aguçar sensivelmente a capacidade criativa do artista).

Mas seria uma miopia avaliar a importância de Amy Winehouse apenas por esses critérios. É ingenuidade acreditar que música pop limita-se apenas à música. Pop é música, imagem, performance e, é claro, o que o artista faz e fala fora do palco. E, nesse sentido, Winehouse era uma popstar única deste século 21. Sua influência na música de hoje também é indiscutível. Ela capitaneou, no início dos anos 2000, uma revitalização da soul music. Foi seguida e copiada por um grande número de cantoras e cantores. Até mesmo gente reconhecida, que estava na estrada há mais tempo, como Beyoncé e Madonna, olharam com grande respeito para Amy Winehouse.

Vivemos uma era musical muito diferente dos anos 60, hoje os artistas que estão nos holofortes são cercados por uma manada de executivos de gravadoras, assessores, agentes, produtores de marketing. Vivem em uma bolha e se expõem calculadamente. Winehouse, não. Nunca se importou de ser simpática com jornalistas para ganhar elogios em reportagens e críticas. Não escondia seus vícios e atitudes e não se importava em ser constante vítima de patrulhamento moral. Colocava sua vida em canções como “Rehab”, “Back to Black”. Assim, o que cantava era algo real, palpável, e não uma abstração. Amy Winehouse não era uma popstar comum. Sim, em muitos de seus show ela aparecia completamente drogada, mal conseguia se manter em pé, se perdia constantemente nas canções. Mas Amy era genuína, algo raro no pop, e todos sabemos que, se ela não está bem no palco, a culpa não é a falta de talento.

Enfim, Jimi Hendrix, Brian Jones, Janis Joplin, Jim Morrison e Kurt Cobain. Todos eram realmente muito loucos, viviam suas vidas espontâneamente, eram ícones não só no quesito músical, mas também no comportamento, expressavam sua genialidade cada um a sua forma. Abusavam dos prazeres da vida, da paixão, dos medos, da liberdade, das drogas, da revolta. Todos estavam dispostos a extrapolar seu limite, aceitavam a confusão de suas almas mas mesmo assim mantinham-se genuínos até o final, ainda que este final tenha se dado de forma prematura. Por isso na minha opinião são martires sim, das incertezas, anseios e sonhos de suas gerações, e por isso seguem marcando a música até hoje... Mas e a Amy Winehouse, afinal de contas, pode se juntar a esse grupo tão bacana, esses sonhadores que morreram aos 27 anos? Pois digo que Amy é muito bem vinda sim (ou, pelo menos, tem o meu voto)!