segunda-feira, 3 de junho de 2013

Os croatas e a curiosa história da gravata


Rei Luís XIV, da França, foi um dos difusores "de la cravate" no século XVII


Muitas conquistas da humanidade com o tempo caíram no esquecimento, mas algumas, embora não mencionadas nos livros de história não dependeram deles para entrarem na cultura global. Os croatas alcançaram uma conquista semelhante no século 17, e as consequências desta conquista ainda estão presentes no mundo inteiro. Sua influência na vida diária de 600 milhões de pessoas se encontra ao redor de seus pescoços, entre uma camisa e um paletó, vestindo um símbolo universal de uma nação, como um abraço de um amigo: a gravata.
No livro "La grande Historie de la  Cravate" (Flamarion, Paris, 1994), Francoise Chaile nos conta sobre os aspectos deste ícone da moda e sua posterior difusão: "(...) Por volta do ano de 1635, um grupo de 6 mil soldados e cavaleiros vieram a Paris manifestar seu apoio a Luis XIII e Richelieu. Entre eles havia um grande número de mercenários croatas que, separados pelo exílio, permaneceram a serviço do rei Francês. (...) O uniforme tradicional destes Croatas despertavam a atenção pelo curioso xale amarrado de uma maneira muito exclusiva ao redor de seus pescoços. Os xales eram feitos de vários tecidos, desde os grosseiros tecidos usados pelos soldados ao fino algodão e a seda dos oficiais. A elegante "moda Croata" imediatamente conquistou a França, que regalou-se por este novo item de moda, o qual era, até então completamente desconhecido na Europa"
A indumentária, usada tanto por homens quanto por mulheres, recebeu o nome de cravate, que significa "croata" em francês . A partir de então, toda a corte francesa (que há 4 séculos atrás já eram lançadores de moda), e inclusive o próprio rei Luís XIV, passaram a usar a gravata habitualmente. No século XVII, o assessório era feito de tiras de tecido (geralmente linho branco muito bem engomado) enroladas no pescoço formando uma cascata na frente. A extremidade era enfeitada com rendas e pregas.

Dos dândis a difusão

Após a Revolução Francesa, a moda masculina ficou mais sóbria e vários elementos caíram. Mas a gravata continuou forte. E no começo do século XIX, o inglês Bryan Brummel criou um novo estilo que reforçou o símbolo de poder das 'cravatas': o dândi.  Marcadas pela sobriedade, as roupas dândis não levavam acessórios, jóias ou bordados. Além de calça comprida, colete e casaco, os dândis usavam uma gola alta com um lenço com nós sofisticados.
Segundo uma reportagem da revista americana "Forbes", nos anos 1800, se um homem tocasse o lenço no pescoço de outro a ofensa era tanta que poderia acabar em duelo. Ainda de acordo com a "Forbes", a gravata moderna (longa e distinta, como a utilizada em conjunto com os ternos hoje em dia) surgiu em 1860, quando se começou a amarrar o lenço como os nós das rédeas de carruagens de quatro cavalos - o hoje chamado 'nó simples'.
Embora as variações no estilo tenham mudado ao longo do tempo, a gravata sempre foi símbolo de poder e de respeito. "Os Exércitos do século XVII eram compostos de nobres. O lenço no pescoço sempre simbolizou status e formalidade. Até hoje ela é usada em ocasiões formais."  indica Miti Shitara, professora de história da moda da faculdade Santa Marcelina, ao site G1.
A própria Miti Shitara reconhece a importância dos croatas na difusão da gravata, mas complementa dizendo que sua história remete há milênios atrás: há registros de uso de lenços no pescoço por soldados chineses ainda no século III A.C. , e também entre o Exército da Roma Antiga, como sudário. "O lenço protegia não só do calor, mas também servia para estancar sangue e limpar a boca, por exemplo."
Hoje representante da masculinidade, a gravata mudou de formas algumas vezes durante o século XX. "Na década de 1930, na época de recessão econômica, as gravatas ficaram largas, os ombros cresceram, e as lapelas também. Pode-se interpretar como um contraponto de uma fragilidade em que o homem precisa se tornar forte. Na década de 1970 aconteceu algo parecido. Não me surpreenderei se agora, em meio a essa crise, uma gravata mais larga voltar a aparecer", explica a professora Shitara.